Resumo:
Esta tese trata sobre a história da alimentação do Rio Grande do Sul no século XIX (1817-1858) e procura responder como e de que maneira as práticas alimentares do Rio Grande do Sul foram representadas na literatura de viagem oitocentista. As fontes principais da pesquisa são as narrativas de viagem de Nicolau Dreys, Auguste de Saint-Hilaire, Carl Seidler e Robert Avé-Lallemant, que percorreram a Província do Rio Grande do Sul, entre 1817 e 1858. Identificar e analisar as representações construídas por estes viajantes sobre as práticas alimentares vigentes na Província, bem como inventariar e demonstrar cartograficamente as atividades relativas ao preparo/trabalho na terra, ao cultivo e ao consumo de alimentos nas diversas regiões da Província no Rio Grande do Sul no Oitocentos, foram os objetivos da presente tese. A investigação se fundamenta teoricamente na História Cultural e metodologicamente na Análise Textual Discursiva, tendo considerado, para a análise das obras dos quatro viajantes, as categorias produção, preparação e consumo de alimentos; comensalidade e etiqueta [distinção e estratificação social à mesa]; hospitalidade, reciprocidade e sociabilidade; saúde e alimentação e tabus e significados simbólicos. Para além das representações sobre as práticas alimentares e das evidências de que elas estiveram inequivocamente fundamentadas nas experiências sociais e culturais daqueles que as descreveram, a análise que fizemos das narrativas dos viajantes possibilitou a identificação e a discussão das informações trazidas sobre uma grande variedade de alimentos produzidos, de práticas de cultivo, de consumo e de sociabilidade, bem como de relações de trabalho nas diferentes regiões da Província do Rio Grande do Sul, apontando para a inegável contribuição dessas fontes para uma História da Alimentação do Rio Grande do Sul.