Resumo:
Qual é o espaço possível para a coragem da verdade no âmbito da política? Como constituir uma subjetividade em que estejam entrelaçados elementos de ética, de epistemologia e da política? Qual é o papel do filósofo e da filosofia na política? Essas e outras questões nos levaram à noção de parresía [παρρησία] e suas inflexões dentro do itinerário pedagógico-filosófico de Michel Foucault. Destas inflexões desponta o problema que este estudo procura examinar de forma atenta e minuciosa: a tensão entre o direito político de exercer a parresía, que entra em colapso, e a prática cínica da parresía. Em face deste problema o estudo quer sustentar a tese de que após o decaimento das polis gregas não é a noção de parresía que entra em crise, mas as formas institucionais de organização da vida política. Dessa forma, sustenta-se a hipótese, seguindo as pesquisas de Michel Foucault, de que a forma de vida cínica e seu legado histórico propiciam conteúdos que podem aprimorar a ação política e os modos de concebê-la por meio de um processo de subjetivação epistêmico-moral de si mesmo – a espiritualidade política. Com este estudo afirmamos que é possível praticar formas plurais de cidadania cuja proveniência se remete ao modo de vida cínico antigo. Modo de vida caracterizado pelo desapego de posses materiais, pela capacidade de criticar os valores culturais e políticos cuja coragem da verdade é a virtude ético-política por excelência.