Resumo:
O Brasil é um país com extensão continental, possui amplidão de terras, água e um clima favorável que lhe proporcionou o desenvolvimento de uma das maiores cadeias de proteína animal do mundo, ocupando uma posição privilegiada quando no ano de 2016, sua produção de 26,35 milhões de toneladas de carnes tornou-o o país líder na produção mundial. Essa corrente de processos é responsável por 22,5% do PIB nacional e exportou em 2016 mais de U$ 1,11 bilhão para mais 150 países, forneceu mais de 6,7 milhões de empregos diretos e indiretos e firmou-se com um dos principais pilares socioeconômicos da nação. Por outro lado, o Brasil é reconhecido também por ser um país com vários problemas sociais, culturais e políticos. Alto índice de corrupção e recentes turbulências políticas culminaram na deflagração da operação policial de 17 de março de 2017, intitulada como “Carne Fraca”, que investigou e expôs um esquema de corrupção com o pagamento de propina e abrandamento das fiscalizações de agentes públicos. Essa situação trouxe um sentimento de desconfiança dos consumidores da carne brasileira no mundo todo e desencadeou uma crise de imagem com reflexos em toda a cadeia de produção e comercialização, viabilizando em alguns dias a possibilidade de todo o segmento ocupar uma posição de desprestígio. Com a instalação dessa crise de imagem, atores primários e seus stakeholders, ventilaram a necessidade de adotarem algum posicionamento a fim de enfrentar os efeitos oriundos dessa crise, assim, o presente trabalho tem por objetivo compreender como uns atores primários e seus principais stakeholders se posicionaram diante dos principais impactos da crise da carne de 2017, descrever o contexto da crise, identificar os personagens centrais, analisar os impactos relevantes por eles percebidos e detalhar o seu posicionamento. A partir de um estudo qualitativo interpretativista, usou-se como método a analise de pesquisa documental e entrevistas em profundidade com um dos atores principais, alguns de seus stakeholders e com especialistas na área de gerenciamento de crises. Os resultados apontaram que o gerenciamento de crises ainda é pouco estudado pelas organizações brasileiras envolvidas na crise da carne, e demonstraram que com base no conceito de stakeholders salience de Mitchell, Agle e Wood (1997), foi possível identificar a maneira que os principais stakeholders se posicionaram diante da crise apoiados em atributos de poder, urgência e legitimidade. Os resultados também apontaram que os stakeholders assumem arquétipos durante um episódio de crise, como vilões, salvadores, vítimas, entre outros, tornando o modelo mais dinâmico, da mesma forma foi verificado que durante a posição assumida por arquétipos uma mesma classificação de stakeholder pode assumir mais de um modelo, dificultando o momento de crise e exigindo maior destreza dos gestores. O estudo contribui com o gerenciamento de crises nas organizações, solicita uma análise do mapeamento das atribuições que stakeholders podem possuir e dos arquétipos possíveis a serem desenvolvidos por eles durante um evento de crise. Organizações, profissionais e acadêmicos podem encontrar dados importantes a fim de buscar um contexto para estudos de gerenciamento de crises em stakeholders, e o desenvolvimento de novos estudos no dilema que envolve a dinâmica dos movimentos adotados por stakeholders e seus arquétipos.