Resumo:
O estar enlutado, nos dias atuais, configura-se como uma circunstância de isolamento e angústia social devido à impossibilidade de exposição da dor por parte dos indivíduos que sofrem uma perda. Na nova regra social vigente, práticas e rituais são simplificados, ao mesmo tempo que os sentimentos de dor e de pesar provocados pela morte, pertencem somente ao indivíduo. Diante desse contexto, a presente dissertação propõe uma análise das atitudes perante a morte, verificando as mudanças e as permanências nos rituais fúnebres e na expressão pública do luto entre imigrantes alemães e seus descendentes no sul do Brasil. Para tanto, no espaço temporal delimitado para estudar as transformações ocorridas em relação à morte e ao morrer, que vai de 1848/64 até 1937, analisamos registros paroquiais, correspondências de imigrantes, necrológios, epitáfios constantes nas lápides dos cemitérios, bem como fotografias mortuárias. A partir dessas fontes, foram analisadas as preocupações com os preparativos para o enfrentamento da morte, os meios empregados nas tentativas de salvação da alma, do bem morrer e as inquietações com o pós-morte. Através de recortes do cotidiano, percebemos que nessa miríade de práticas, contingências e de relações estabelecidas entre vivos e mortos no cenário teuto-riograndense, estão imbricadas diversas questões que oscilam do cultural ao sócio-econômico. Todas essas instâncias são igualmente importantes para desvelar a relação não apenas com a morte, mas também com a vida.