Resumo:
A proposta desta tese é estudar a constituição dos princípios e práticas cooperativas, a partir dos estudos de caso da El Progreso Agrícola de Pigüé e da Caixa de Economia e Empréstimo Amstad, nas primeiras duas décadas do século XX. Essas experiências cooperativas foram forjadas em áreas de colonização agrícola, na província de Buenos Aires (Argentina) e no estado do Rio Grande do Sul (Brasil), entre 1898 e 1902, respectivamente. O método comparado possibilitou discutir e questionar a visão hegemônica do cooperativismo em cada um dos países, buscando perceber as particularidades do fenômeno cooperativo. Sobretudo, quando a análise estende-se à percepção de circulação de cultura e ideias, tendo em vista o próprio movimento cooperativo sendo forjado anos antes da criação de cada cooperativa, percebemos uma “mitificação” dos princípios ingleses. Em especial, problematizamos o pensamento associativo de alguns socialistas no século XIX europeu, os quais também deram origem ao cooperativismo. Analisamos em que medida e quais pensadores influenciaram as experiências que foram colocadas em prática pelos imigrantes franceses e alemães que se instalaram no Sul da América. Elementos como o humanismo, a solidariedade e a coletividade impulsionaram experiências associativas, contrapondo-se ao contexto social daquela época, do capitalismo e do individualismo crescente. No entanto, o cooperativismo não é um movimento social homogêneo, desde suas origens. Há, no seu interior, concepções de associação, de cooperação e de sociedade diferentes. Analisamos que modelo cooperativo as instituições aqui estudadas assumiram diante do contexto latino-americano, considerando as adaptações e remodelações das experiências europeias. A predominância dos princípios dos Pioneiros de Rochdale, estabelecida ainda hoje no movimento cooperativo, deve ser entendida como parte do movimento da Aliança Cooperativa Internacional, a qual busca formalizar a definição de uma cooperativa para internacionalizar e institucionalizar tais iniciativas. A simultaneidade da criação de cooperativas, de diferentes princípios e práticas cooperativas nas colônias, brasileiras e argentinas, nos mostra que aquela experiência inglesa foi importante para um determinado contexto e, principalmente, para um tipo de cooperação, a de consumo. Mediante os estudos de caso, é possível olhar para as diferentes expressões cooperativas, valorizando, inclusive, posicionamentos e interpretações que cada grupo social deu à organização associativa-cooperativa.