Resumo:
Esta tese tem por objetivo compreender as lógicas das ações sociais de atores que participam da execução do trabalho da reciclagem do lixo na cidade de Passo Fundo (RS), especificamente catadores de materiais recicláveis, sejam eles associados a empreendimentos cooperativos ou trabalhadores individuais que catam nas ruas dessa cidade. A proposta de pesquisa fundamenta-se na possibilidade de estudar experiências concretas de trabalhadores no sentido de exemplificar dinâmicas relacionais em uma sociedade complexa. Os sujeitos em questão são definidos como atores sociais tendo em vista construírem suas relações a partir de suas ações, entre Ser e Estar catador, nos espaços-tempos que integram e nos quais negociam suas práticas e interesses. O aporte teórico relativo a esta reflexão tem interface com a Sociologia das Experiências de François Dubet e dos conceitos analíticos de disposição social e tática, de Bernard Lahire e Michel de Certeau, respectivamente. Condensamos, assim, um teor analítico consubstanciado numa praxiologia dos atores sociais em suas lógicas de integração, estratégias/táticas e subjetivação social, pois determinados eventos e processos sociais podem ser também compreendidos frente a atitudes e disposições que amealham ao longo da vida. Nosso levantamento empírico foi constituído mediante a aplicação de 120 questionários socioeconômicos junto a este público de trabalhadores urbanos, com vistas a traçar um panorama exploratório do campo de estudo e, diante disso, da observação de determinadas características que igualam e diferenciam os indivíduos em questão. Num segundo momento, realizamos 22 entrevistas narrativas com atores selecionados desse estrato, visando compreender suas ações sociais frente as suas lógicas e trajetórias de vida. O estudo também nos possibilitou realizar observações diretas com o intuito de compreender as condições e realidades vivenciadas no interior desse segmento social. Coube-nos considerar, enfim, que os catadores em Passo Fundo são sujeitos muito heterogêneos em suas práticas e atitudes. Ao mesmo tempo, os consideramos como sujeitos eminentemente mutáveis do ponto de vista de seus deslocamentos e de como desenvolvem ajustes a fim de integrar-se à sociedade abrangente que os acolhe em determinados momentos e os diferencia e os afasta em outros.