Resumo:
Esse trabalho tem como objetivo identificar e compreender o processo de ocupação da área do médio vale do rio dos Sinos e seu principal afluente da margem direita, rio Paranhana, por populações portadoras das tradições cerâmicas Taquara e Tupiguarani., Para isso, foram levantadas, organizadas e analisadas todas as informações documentais (fichas de registro de sítios, plantas baixas, fotografias, anotações diversas) e as coleções lito-cerâmicas disponíveis para os sítios arqueológicos registados naquela área, no acervo do Museu Arqueológico do Rio Grande do Sul (MARSUL), em Taquara, RS. A partir dessas análise, foi possível propor um modelo de ocupação da região do médio vale do rio dos Sinos e vale do rio Paranhana pelos grupos portadores das tradições cerâmicas Taquara e Tupiguarani, no qual os primeiros experimentam uma expansão descendo o vale do rio Paranhana até sua desembocadura e dali, possivelmente, rio dos Sinos à jusante, pelo menos até a altura de Sapiranga, entre 662 AD e 888 AD. Posteriormente, um segundo momento de expansão e ocupação do médio vale do rio dos Sinos e do vale do Paranhana se deu entre 1.450 e 1.750 AD, por portadores da tradição cerâmica Tupiguarani, mas agora no sentido inverso, subindo o vale do rio principal, possivelmente a partir do Lago Guaíba, onde existem sítios datados desde, pelo menos, 1.340 AD e depois subindo o vale do rio Paranhana, em um momento em que provavelmente, os grupos associados à tradição Taquara já teriam se dispersado ou refluído às áreas mais altas do vale do Paranhana e do Planalto contíguo. A expansão dos grupos portadores da tradição Tupiguarani em direção à montante do rio Paranhana, possivelmente levou ao estabelecimento de um processo de contato e interação com grupos associados à tradição Taquara, estabelecidos ainda nessa área do alto vale, fazendo dela uma zona de fronteira e resultando em dois sítios com evidências de contato. Tanto a expansão dos portadores da tradição Taquara, descendo o rio Paranhana e o rio dos Sinos, como um segundo processo de expansão, em sentido contrário e cronologicamente posterior ao anterior, relacionado aos portadores da tradição Tupiguarani, subindo esses mesmos rios, proposto por nosso modelo na área de estudo, são consoantes com fenômenos de expansão e dispersão desses grupos em uma perspectiva regional, mais ampla, em momentos cronologicamente semelhantes.