Resumo:
Situações de violência na escola, apesar de não configurar um fenômeno recente, apresentam-se como um problema constante, constituindo uma contínua preocupação para equipes diretivas e demais profissionais. Diante disso, este trabalho aborda questões e desafios em torno da temática, a partir de pesquisa desenvolvida em uma escola pública municipal, localizada na periferia da área metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Dentre as questões provocadoras do estudo constam aquelas que buscam saber como a violência se manifesta na escola investigada e quais são os respectivos encaminhamentos adotados pela direção e/ou pelo corpo docente nesses casos. Assim, após trazer à tona ideias de teóricos que têm se dedicado ao tema, como Hannah Arendt, Miriam Abramovay, Marcos Rolim e Marília Sposito, entre outros, bem como alguns aportes que tratam das implicações dessa problemática para a gestão escolar, o texto desdobra relatos e reflexões decorrentes de encontros da pesquisadora com o grupo de crianças e a professora da turma investigada. Partindo do pressuposto de que alunos – ao encontrarem espaço e momentos de escuta e tendo vez e voz – podem conviver sem agressões e até atuar como mediadores dos conflitos, desenvolveram-se atividades ao longo de três semestres letivos. Utilizaram-se, para isso, procedimentos metodológicos baseados na pesquisa-ação, conforme Maria Amélia Santoro Franco e Mari Forster, de modo que os registros e comentários em caderno de campo consistiram em uma das principais ferramentas operacionais. Dentre os resultados obtidos, fica evidente o comprometimento dos alunos quando exercitam ações como sujeitos protagonistas e responsáveis. Com isso, diferentemente da expectativa inicial, constata-se que a violência maior não advém das crianças e de suas atitudes: ela aparece muito mais no que cada um consegue dizer e/ou denunciar no grupo sobre acontecimentos vividos na própria escola ou em suas vidas. Assim, considerando o papel determinante da gestão escolar nesse contexto, o estudo sugere, entre outras reflexões, a necessidade de uma radical atitude de diálogo e escuta aos alunos e docentes, bem como de oportunidades de formação pedagógica permanente, sensibilizando e capacitando professoras ante os desafios cotidianos.