Resumo:
Na última década, o Brasil tem presenciado e respondido positivamente a grandes investimentos no combate à pobreza no país. Pobreza e desigualdade marcam não apenas o Brasil, mas todo o continente latino-americano, como resultado dos processos de colonização, escravidão e implementação de um modelo de desenvolvimento econômico global. Compreendendo a pobreza como multidimensional que perpassa pelo econômico e pelo social, e percebendo o trabalho como uma forma identitária que permite a inserção ao meio social e o acesso à direitos, o presente trabalho busca analisar as possibilidades e limites das políticas públicas de inclusão produtiva (IP) do público da assistência social no âmbito da gestão municipal de Canoas (RS), a partir da perspectiva da intersetorialidade. Tal análise se fundamentará no paradigma da complexidade, tanto do ponto de vista teórico quanto metodológico. A metodologia foi composta por entrevistas semiestruturadas e observação participante em encontros da pesquisa-ação participante com técnicos e gestores da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS) – denominado GT Metodológico – e nas reuniões intersetoriais. A ação investigada na pesquisa envolve a SMDS e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SMDE) com o intuito de uma implementação intersetorial das ações de inclusão produtiva no município. A partir da pesquisa ex post facto foi possível perceber que a necessidade de uma visão sistêmica que compreenda a integração entre os setores com um objetivo em comum foi um dos grandes limitadores do processo, além da lógica individualista e de setorialização. A separação dentro das próprias secretarias em diretorias dificulta inclusive a compreensão do papel de cada setor. O GT Metodológico possibilitou a percepção da importância de espaços coletivos onde haja trocas de experiências e de conhecimento de forma horizontal e democrática para a construção de ações mais efetivas. A pesquisa demonstrou haver interesse dos gestores em aprofundar o tema da IP e promover a intersetorialidade. Contudo, a mudança paradigmática é algo desafiador e diversos entraves surgiram, como a falta de recursos físicos, humanos e de tempo, a precária infraestrutura, a forma organizacional. Por fim, todo o processo contribuiu para um maior conhecimento mútuo entre as áreas no tocante à IP, mas não se consolidaram arranjos intersetoriais.