Resumo:
Este trabalho apresenta uma reconstrução e uma defesa do pensamento crítico-transcendental kantiano no que concerne ao problema do sistema da razão. Sustenta-se a tese de que a consideração kantiana do problema do sistema se fundamenta na autossuficiência dos domínios teórico e prático da razão. Garante-se, para tal, que essa consideração parte da certeza da necessidade de um método próprio para a filosofia em relação à matemática e culmina na justificação crítica do mesmo método enquanto sintético a priori. Assegura-se, outrossim, que a posição kantiana mantém a sua singularidade ao conceber as determinações teórica e prática da razão ambas como ativas e determinantes em seus domínios próprios de atuação. A estrutura da tese é amparada por quatro momentos na argumentação do trabalho. Inicialmente, pondera-se a (in)dependência de justificação da filosofia em relação à matemática no pensamento de Leibniz, Wolff e na posição de Kant da década de 1750. Num segundo momento, considera-se a defesa kantiana, na década de 1760, do método da filosofia enquanto analítico, e a retomada dessa posição, na década de 1770. Num terceiro momento, apresenta-se a justificação crítica do método da filosofia enquanto sintético a priori no empreendimento da dedução das categorias. Num quarto e último momento, por fim, atende-se especificamente à consideração do problema do sistema nas décadas de 1780 e 1790. Apresenta-se, como resultado desses quatro momentos da investigação, a conclusão de que a abordagem do problema do sistema deixa-se ler, na própria formulação kantiana, como um “sistema da Crítica”. Fórmula essa que representa uma filosofia que, desde que estruturada enquanto Weltbegriff, nutre-se da positividade das determinações teórica e prática da razão e, para tal, é justamente resultante da observância de um plano concebido segundo o seu Schulbegriff.