Resumo:
Esta dissertação tem como tema o Ensino Médio Politécnico da Rede Estadual de Ensino (REE) do Rio Grande do Sul (RS), no contexto das políticas públicas em educação e da acumulação flexível do capital. Na pesquisa, procuramos fazer um estudo sobre a base teórica da proposta e o contexto das escolas e da SEDUC, para analisarmos se a formação que ocorre no ensino médio hoje se alinha mais ao conceito de politecnia ou de polivalência. Com isso, buscamos analisar como a politecnia e a polivalência se inter-relacionam com a proposta e com a prática da política pública do EM Politécnico da REE, no contexto da acumulação flexível do capital, com o objetivo de caracterizar as concepções de politecnia e polivalência e identificar se a politécnica ocorre no contexto das escolas. Para isso, realizamos um estudo teórico-empírico em duas escolas: E. E. E. M. Caic Madezatti, localizada em São Leopoldo/RS, e Instituto de Educação Estadual Rubén Darío, localizado em Sapucaia do Sul/RS; e na Secretaria Estadual de Educação, mantenedora desta área, responsável pela transposição da proposta do EM Politécnico para o espaço escolar. Fizemos a escolha por esses dois espaços distintos, por entender que as políticas públicas se configuram de fato no chão da escola, pois estão sujeitas à reinterpretações e recriações dos atores envolvidos na implementação; contudo, o contexto da mantenedora igualmente relevante neste processo, pois os profissionais da Seduc também fizeram suas reinterpretações, alterando, muitas vezes, sua visão e promovendo mudanças que consideraram necessárias. Utilizamos como método o materialismo histórico dialético, na modalidade de pesquisa qualitativa, dialogando com os documentos que norteiam a proposta de reforma do EM e com obras de Antônio Gramsci, Acácia Kuenzer, Dermeval Saviani, Gaudêncio Frigotto, Jefferson Mainardi, Paolo Nosella, Ricardo Antunes dentre outros. Como instrumentos de coleta de dados, aplicamos entrevistas semiestruturadas com gestores escolares, gestor educacional (representante da Seduc) e professores da disciplina de Seminário Integrado, para análise do EM Politécnico da REE e suas contradições relacionadas com as políticas públicas e a formação na perspectiva da politecnia e/ou da polivalência. Podemos constatar as contradições impostas pelo capitalismo na implementação do EM Politécnico, pois, por um lado, a reestruturação do EM apontou para uma educação na perspectiva do trabalho como princípio educativo, com formação integral e humana, proporcionando uma visão de escola inclusiva; por outro lado, no contexto das escolas e da SEDUC, os sujeitos envolvidos ressignificaram a proposta, mudando em certa medida a ideia central, pois estão inseridos numa sociedade que segue os interesses do capitalismo, na lógica mercantilista e utilitarista, que veem a educação como meio de preparação para o trabalho e para os vestibulares. Percebemos ainda que a reforma, apesar dos limites enfrentados pelos espaços escolares e Seduc, obteve alguns avanços importantes, como a criação de uma cultura de pesquisa nas escolas. Constatamos que a politecnia não está ocorrendo no contexto das escolas, pois é preciso tempo para desconstruir uma cultura com base no trabalho como valor de troca, e construir uma cultura de trabalho coletivo. Contudo, acreditamos que a reestruturação do EM abriu um caminho para a perspectiva de educação que forme a partir de princípios humanitários.