Resumo:
O presente trabalho tem como objetivo analisar a biografia Cornelio Saavedra padre de la patria argentina, escrita por ocasião das comemorações do sesquicentenário da Revolução de Maio (1960) pelo historiador jesuíta Guillermo Furlong (1889-1974) e reimpressa dezenove anos depois, quando do sesquicentenário da morte do biografado (1979). A obra originou-se de uma conferência que Furlong proferiu, a pedido da Agrupación Celeste y Blanca, em 1960, e apresenta evidentes influências da Historia Magistra Vitae, sobretudo pelo apego às fontes documentais, e pela exaltação do posicionamento político moderado do líder de Maio e de sua forte relação com o catolicismo, em contraposição às tendências mais exaltadas de seus adversários. Recorrendo a esta metodologia e a estratégias narrativas, Furlong pretendeu transformar Saavedra em exemplo para as próximas gerações de argentinos em momentos de grande turbulência política na Argentina, como foram as décadas de 1960 e 1970. A dissertação é composta de três capítulos, sendo que, no primeiro, reconstituímos a trajetória de Furlong, destacando aspectos relativos à sua formação às influências que recebeu, a sua inserção em instituições leigas e os vínculos que estabeleceu com outros intelectuais, católicos ou não, e ao contexto de produção da biografia. No segundo capítulo, apresentamos a trajetória de Saavedra e sua atuação na Revolução de Maio, privilegiando uma reflexão sobre a operação historiográfica evidenciada no texto da conferência e da biografia escritas por Furlong. No terceiro capítulo, discutimos tanto a memória que ambos os textos construíram sobre Saavedra e sobre o movimento de Maio, quanto a que se construiu sobre o historiador argentino a partir tanto de textos elaborados por colegas e amigos para uma edição especial da revista Archivum, quanto de historiadores contemporâneos, que se dedicam à análise de sua vasta produção.