Resumo:
Esta pesquisa teve como objetivo principal compreender o processo de construção de professores iniciantes na docência do ensino superior. Tomou como lócus a Faculdade Murialdo localizada no município de Caxias do Sul, no Estado do Rio Grande do Sul. Trata-se de uma IES isolada de caráter confessional. Na perspectiva de atender ao intento investigativo, foi desenvolvida uma pesquisa de caráter qualitativo, ouvindo, através de entrevistas semiestruturadas, sete docentes de áreas distintas, com até três anos de experiência no magistério superior. Essa escolha possibilitou melhor configurar a abrangência do estudo. Para a interpretação dos dados foram utilizados os princípios da Análise de Conteúdo. Os aportes teóricos principais tiveram como base os estudos Hubermann, Marcelo Garcia, Freire, Anastasiou, Pimenta, Cunha, Mayor Ruiz, Gaeta e Masetto, Isaia, Nóvoa, Shön, Tardif, Zabalza e Zeballos. Na perspectiva de alcançar os objetivos, algumas questões foram centrais: O que motiva os profissionais de diferentes áreas a se envolverem no magistério superior? Como os docentes constroem os saberes necessários a essa profissão? Que desafios enfrentam na prática de ensinar e aprender? Que valor dão aos conhecimentos do campo da pedagogia universitária? Que expectativas têm sobre o apoio institucional no seu trabalho? Ampliando ainda o estudo, procuramos, também, compreender as principais experiências que viveram nos anos iniciais da carreira docente e o que significaram para as suas práticas cotidianas. Interessou saber, ainda, como as estratégias de formação e desenvolvimento institucional podem ser mobilizadas para fortalecer a docência. Os dados evidenciaram o “choque de realidade” por que passam os docentes iniciantes, confirmando pesquisas anteriores. Reconhecem que seus saberes são empíricos, inspirados nos seus ex-professores e na sua trajetória como estudantes. Percebem, porém, mudanças geracionais, que exige deles um esforço para compreenderem seus alunos, suas culturas e condições de estudo. Percebem que necessitam de saberes que os ajude a ter êxito no seu trabalho e apostam na troca de experiências e em formações colaborativas como alternativas importantes para tal. Entretanto, são raras as menções de necessidades que extrapolam a visão instrumental e pragmática dos saberes que requisitam. Talvez, dada a sua condição profissional de origem, ainda não tenham consciência da complexidade da docência como um espaço de formação que extrapola a dimensão do conhecimento específico. Os espaços de formação institucional, bem como políticas nesse sentido, são requeridos pelos professores que iniciam a docência superior. Ainda não ficou explicitado de forma mais intensa esse compromisso, ficando a sugestão do necessário investimento de uma formação permanente e situada na própria IES, além de incentivos a cursos de pós-graduação lato e stricto sensu. A fragilidade da formação e o incipiente apoio institucional no ambiente acadêmico retardam e afetam a construção da profissionalidade, que se situa mais numa responsabilidade individual do que nas políticas que sustentam a educação superior no país.