Resumo:
Esta tese visa apresentar uma visão “sentimentalista-evolucionista” do comportamento moral, a fim de defender que os vínculos emocionais propiciados pela empatia constituem a base da moralidade. O argumento parte do conceito de moral adotado por Adriano Naves de Brito, a partir do trabalho de Ernst Tugendhat, para quem a moral é uma relação de exigências recíprocas presente em pequenos grupos. Minha proposta é alargar essa concepção de modo a abarcar não só seres humanos, mas também mamíferos de vida social complexa. A investigação do fundamento motivacional da moralidade será feita a partir dos escritos de David Hume, para quem as emoções representam, em última instância, a fonte que inclina os indivíduos a aprovar e censurar ações. Uma tese de proposta naturalista precisa compatibilizar sua base teórica com conceitos centrais do evolucionismo. Por esse motivo, a leitura desses autores e os argumentos desenvolvidos no decorrer dessa investigação estarão enraizados em conceitos centrais da teoria evolucionista, conforme proposta por Charles Darwin. Considerando a importância que as emoções e a empatia possuem na discussão metaética sobre o comportamento moral, é necessário explicá-las a partir de uma conceptualização naturalista. A discussão entre o construtivismo social e a psicologia evolucionista é relevante a essa questão. Utilizarei estudos sobre a fisiologia das emoções socialmente relevantes da culpa, vergonha e raiva, para defender um fundamento biológico para as mesmas. Considerando que um efeito não possui uma natureza diferente de sua causa, demonstrar que elas são expressas e reconhecidas de maneira inata é um forte argumento em favor da defesa
de sua origem natural. Contudo, ainda que sejam expressas e reconhecidas de maneira inata, é preciso que os indivíduos não sejam indiferentes à sua manifestação. Mecanismos psicobiológicos de sociabilidade consistem nos candidatos ideais para explicar a vinculação emocional inerente a pequenos grupo e central a moralidade explicada em bases naturais compatíveis com a teoria evolucionista. Caso seja possível explicar os elementos constituintes dos comportamentos normativos em moldes “sentimentalista-evolucionista”, então se obterá um real avanço no projeto mais amplo de naturalização da moral.