Resumo:
Esta dissertação busca investigar o impacto das leis abolicionistas uruguaias para os senhores e seus escravos rio-grandenses, nas décadas de 1840 a 1860. A partir da análise das trajetórias da preta Faustina e do pardo Anacleto pretende-se problematizar algumas questões como: as motivações para as fugas de escravos pela fronteira rio-grandense, o envio de escravos por parte dos estancieiros rio-grandenses para trabalharem na República Oriental do Uruguai após a abolição da escravatura deste país, a busca pela posse cativa pelos senhores escravistas gaúchos e o Tratado de Devolução de Escravos de 1851, o roubo de escravos e negros orientais livres para serem vendidos no tráfico inter e intra-provincial, o comércio de escravos entre as vilas de Jaguarão, Pelotas e Rio Grande através da Lagoa Mirim, os argumentos de cidadania e de solo livre defendidos pelos curadores e chefes políticos uruguaios para a liberdade dos afro-descendentes nascidos no Uruguai e também para aqueles que lá moravam algum tempo. Através de uma combinação metodológica entre a micro-história e a História Comparada, pretende-se perceber as semelhanças e diferentes das duas histórias analisadas. A fonte base dessa pesquisa são dois processos criminais. Juntam-se a eles, registros notariais como, cartas de alforria e escrituras públicas de compra e venda; registros paroquiais como, batismo e casamento; inventários post-morten; correspondências diplomáticas e militares. Nossa principal hipótese de trabalho é que as leis abolicionistas uruguaias acarretaram grandes mudanças na organização da escravidão na província de São Pedro do Rio Grande do Sul.