Resumo:
O objetivo desta pesquisa é problematizar como os trabalhos de Michel Foucault sobre o cuidado de si e a governamentalidade podem ser lidos como herdeiros da teoria crítica iniciada por Immanuel Kant. A visão de Foucault em relação a Kant, como a pedra inaugural de um novo modo de filosofar sobre a relação entre a verdade e o sujeito, representa uma leitura importante para compreender os escritos de Foucault sobre o cuidado de si e a governamentalidade. A partir de uma análise da influência do poder pastoral na formação da governamentalidade, é possível fazer uma genealogia do cuidado de si como modo de constituição de uma subjetividade não sujeitada. Isto daria condições ao trabalho filosófico de esclarecer as possibilidades atuais da liberdade, interrogando sobre os limites e os poderes que atuam sobre ela. Nesta perspectiva, a obra de Foucault propõe a tarefa de se questionar sobre o presente, objetivando a construção de um ethos embasado em uma atitude crítica. Esta tarefa, definitivamente, pode ser encontrada nos textos de Kant sobre a história. Desde esta perspectiva, o modo pelo qual se compreende o trabalho genealógico de Foucault é um pensamento sobre as condicionantes que constrangem o pensamento e a ação no presente. Estudar as técnicas de subjetivação permitiu a Foucault evitar enganos ao problematizar a liberdade dentro dos marcos normativos que desembocam na normalização das condutas. Era com esta intenção que Foucault caracterizava o ethos filosófico próprio à ontologia crítica do indivíduo em si mesmo como uma prova histórico-prática dos limites que se podem ultrapassar e, portanto, como um trabalho dos indivíduossobre si mesmos como seres livres. Era já pensando nos limites a serem ultrapassados que Foucault problematizava algumas formas de racionalidade inscritas em práticas ou sistemas de práticas, como forma de discernir certas relações de saber e poder que condicionavam a formação da subjetividade em determinados contextos.