Resumo:
O presente trabalho investiga a busca e atuação de pais de desaparecidos por razões políticas, sequestrados e/ou detidos, durante a última ditadura civil-militar argentina (implementada no ano de 1976 com vigência até 1983). O período foi intensamente marcado pela violência por motivos políticos que assolou o país, gerando, entre outros, o saldo de milhares de desaparecimentos forçados. Para pôr em prática o projeto ditatorial de Reorganización Nacional, frente às inúmeras manifestações de resistência, fez-se uso de uma ampla composição repressiva, estatal e clandestina. Diante dessa configuração, surgem diversas organizações encabeçadas principalmente por familiares de vítimas diretas da repressão ditatorial e seus entornos sociais, a fim de questionar o paradeiro de “seus” desaparecidos e exigir transparência e justiça na apuração de seus “casos”. Dentre as organizações estabelecidas por familiares das vítimas, sobretudo entre os anos de 1974 e 1977, as Mães da Plaza de Mayo assumiram um papel de destaque no cenário nacional e internacional enquanto agente político ao longo de mais de 30 anos de atuação. Símbolo da luta em favor dos Direitos Humanos pelo direito à memória, à verdade e à justiça, sua história contou com a participação de uma série de colaboradores e outros familiares. Contudo, pouco foi dito até a atualidade sobre os companheiros destas mães, não só de luta, mas de vida: os pais. Diante do exposto, essa pesquisa procura evidenciar a trajetória de atuação dos Pais da Plaza de Mayo frente ao desaparecimento de seus filhos, discutindo sua participação em organizações de Direitos Humanos e sua invisibilidade, principalmente perante à atuação das mães. A pesquisa foi pautada principalmente pela metodologia da história oral sendo apresentados diversos trechos de entrevistas de pais e, em menor número, de mães, problematizadas sob à luz da diferenciação de suas atuações. Essa é associada, sobretudo, a questões de gênero. Desde a elaboração de estratégias de resistência baseadas nas distinções dos dois sexos, até a construção social dos papéis paterno e materno. Igualmente, dada a opção de trabalhar com história oral e memória, se problematiza a concepção que os mesmos fazem acerca de sua militância em prol dos filhos e o fato de não terem constituído um grupo paterno. Dada a ênfase colocada na construção social da paternidade e da maternidade, foram estabelecidas discussões que vinculam o ofuscamento destes pais em meio à esfera pública ao exercício paterno dentro da esfera privada, entendido como complementar nos cuidados com os filhos. Por fim, propõe-se a elaboração de um espaço próprio para esses, geralmente associados a um grande grupo de familiares, que dê conta de suas especificidades respeitando a elaboração de uma memória inclusiva que valorize suas ações.