Resumo:
A comemoração do Sesquicentenário da Revolução Farroupilha (1835-1985) foi uma iniciativa oficial do Governo do Estado do Rio Grande do Sul concebida dois anos antes de sua realização. Para o evento todas as esferas da sociedade gaúcha ficaram encarregadas de realizar atividades alusivas à Revolução Farroupilha no transcorrer dos 150 anos do fato histórico. Entendeu-se nesse caso a comemoração como um ato político de criação/manutenção de uma memória coletiva que corroborou com o status quo vigente. Nosso pensamento embasou-se em Ozouf (1988) e Arruda (1999) no que se refere aos conceitos de festa e comemoração. Candau (2012) e Ricoeur (2007), entre outros, foram usados na construção do conceito de memória. A partir dessa construção teórica nos propusemos a estudar a comemoração do Sesquicentenário da Revolução Farroupilha, buscando verificar nela alguns aspectos que se destacaram nas festividades, o que foi constatado por meio da documentação analisada. Para alcançar nossos objetivos nos valemos da pesquisa qualitativa a partir de fontes primárias e da realização de uma revisão bibliográfica sobre o tema. Aprofundamos então a comemoração oficial, que no decorrer do trabalho mostrou-se como a festa da memória farroupilha. Uma memória construída ainda na década de 1930 (GUTFREIND, 1999), passível de manipulação e, conforme defendemos na dissertação, uma construção representativa do poder simbólico da sociedade gaúcha (a Revolução Farroupilha) reutilizado em 1985 (BOURDIEU, 1989; HOBSBAWM, 1997). Ainda três aspectos da comemoração foram analisados: o da historiografia sobre a temática farroupilha produzida no decorrer de 1985; o das propostas para o ensino sobre a Revolução Farroupilha e a da cobertura midiática do evento. Nossa pesquisa indicou que houve na historiografia uma divisão na abordagem sobre a Revolução Farroupilha entre a história oficial e a história acadêmica. Já as apropriações da comemoração pelo ensino estiveram em consonância com a comemoração oficial, por ter sido por ela organizada. E a imprensa gaúcha, representada aqui pelo jornal Zero Hora, demonstrou uma manipulação para além da mediação oficial criando uma autorrepresentação positiva do Grupo RBS.