Resumo:
A distribuição das associações e abundância de espécies de foraminíferos bentônicos está condicionada a diversos fatores ecológicos, ligados intrinsecamente a aspectos físicos e químicos dos oceanos. A partir de 68 amostras provenientes de dois testemunhos do talude continental da Bacia de Santos (aproximadamente 2.000 metros de lâmina d’água), analisou-se a fauna de foraminíferos bentônicos, bem como os isótopos estáveis de carbono e oxigênio das carapaças. Por meio do estudo sistemático da fauna de foraminíferos bentônicos foram identificados 68.998 espécimes pertencentes a 123 espécies. A caracterização ecológica das espécies identificadas, somada à análise quantitativa de seus padrões de distribuição, possibilitou o registro de alterações no conjunto microfaunístico, atribuídas aos diferentes eventos climáticos. As maiores flutuações na abundância relativa ao longo dos testemunhos resultam dos padrões das três principais espécies: Pseudoparrella exigua, Alabaminella weddellensis e Cassidulina californica. P. exigua tem maior abundância nos estágios glaciais, caracterizando esses períodos como fortemente influenciados por aportes sazonais de fitodetritos, enquanto A. weddellensis domina nos estágios interglaciais, indicando uma deposição mais intensa e contínua de material orgânico. Já C. californica, que teve abundância expressiva tanto em glaciais como em interglaciais, responde a quantidades elevadas de carbono orgânico total nos sedimentos. Embora sejam indicadoras de alta produtividade, essas espécies não apresentaram uma ligação estreita com as águas ricas em nutrientes que dominam nos períodos glaciais. Porém, variações na abundância relativa sugerem períodos com distintas intensidades de fluxo de nutrientes e diferentes origens da matéria orgânica depositada no assoalho oceânico nos últimos 545 mil anos.