Resumo:
A proposta desta investigação consiste em compreender de modo mais pontual os processos de constituição da arte contemporânea a partir do fenômeno da crescente interação entre as culturas, o qual, no âmbito cultural da pósmodernidade, avança fortemente matizado por questões de natureza identitária. Em tempos atuais, parece impensável isolar a arte – à maneira moderna – e tratá-la como um organismo autônomo e impermeável ao mundo à sua volta. Desvinculada de um projeto histórico e de princípios universais de assimilação, a arte contemporânea corresponde a um novo modo de processar práticas estéticas no campo da arte, dentro de um âmbito que vem demandando, por parte dos artistas, a incursão por territórios sócio-políticos cada vez mais conflitivos. As críticas destrutivas, os ataques e as tentativas de desqualificar a arte contemporânea refletem um parcialismo preguiçoso e tendencioso. Tais atitudes quase sempre desconsideram as mudanças conjunturais que, pelos menos desde meados da década de 1970, vêm afetando o campo das artes visuais e dele fazem um território privilegiado para a visibilidade de leituras possíveis sobre diversas esferas sociais, como a da identidade cultural. Para realizar este empreendimento investigativo, optou-se por uma abordagem de cunho hermenêutico que tem como ponto de partida a crítica aos valores afirmativos e integralistas da História, combinada com algumas considerações sobre os campos conceituais da cultura e da identidade. Este núcleo estrutural acomoda uma análise sobre a arte contemporânea conduzida por novos agenciamentos presentes na crítica cultural pós-moderna, fortemente baseada na contextualidade da experiência, na narratividade do conhecimento e na inconsistência das explicações sinópticas e teleológicas sobre a realidade. Mediante a aproximação de exploração bibliográfica, elementos etnográficos e vivências no campo da arte, procurou-se construir este trabalho sob o domínio de uma sensibilidade dialógica que repudia a fixação de “fundamentos” e posições axiomáticas acerca da ciência, de modo que o próprio movimento de reconstrução do texto através de sua leitura possa criar possibilidades de enunciar o que não foi dito. O itinerário traçado a partir destes parâmetros produz tensionamentos que não são facilmente resolvidos, tendo em vista o fato de que os produtos gerados pela ciência são também constituídos a partir de um jogo de linguagem próprio que cadencia temporalidades, ritmos e processos de assimilação que não se revelam em sua totalidade. A projeção da cultura como um campo de experimentações políticas trouxe ao cenário atual a necessidade de compreensão dos seus impactos frente a diversas esferas da vida social. Como uma destas esferas, a arte absorveu as possibilidades criativas, desconstrutivas e ressignificantes que estão na base de um projeto que almeja reposicionar o valor da cultura após o desgaste da modernidade e o esvaziamento de suas significações. Sob esta ótica, os rompantes escatológicos e suicidas da arte perdem sua força, pois ela assume a posição de um texto que se enriquece na medida em que se deixa impregnar por outros textos. Posicionando-se desta forma, a arte evita a fixação de limites disciplinares precisos e aventura-se na busca por um sentido capaz de situá-la em espaços sociais que se renovam constantemente.