Resumo:
Esta dissertação propõe-se a investigar como as profissionais que atuam nos Laboratórios de Aprendizagem (LAs) da rede municipal de ensino de Esteio, no estado do Rio Grande do Sul, compreendem a (não)aprendizagem dos alunos e que práticas de apoio pedagógico são colocadas em funcionamento para regular essa (não)aprendizagem. Apoiada na abordagem pós-estruturalista, principalmente no pensamento de Michel Foucault e de seus comentadores, seleciono norma, poder e aprendizagem como ferramentas analíticas para investigar as práticas de apoio desenvolvidas em 18 Centros Municipais de Educação Básica (CMEBs) por 22 profissionais que atuam nos LAs de Esteio. O material empírico da pesquisa foi produzido no contexto de dois ambientes: o primeiro, que chamo de ambiente de pesquisa off-line, toma os encontros formativos presenciais e as visitas in loco aos espaços dos LAs; o segundo, que chamo de ambiente de pesquisa on-line, toma as interações síncronas (chats) e assíncronas (e-mail, fóruns de discussão, mural e depoimentos) no ambiente virtual Eduquito e no aplicativo de celular WhatsApp utilizados pelas professoras que participam deste estudo como locais e instrumentos de pesquisa. Busco na Etnografia a inspiração para desenvolver esta pesquisa, assumindo a Netnografia como procedimento metodológico a ser adotado para produção de informações. Além disso, os documentos que normatizam o LA e a política de inclusão no município de Esteio, também disponibilizados na plataforma: Diretrizes do LA, Resolução 10 do CME e Projeto Político-Pedagógico (PPP) da Secretaria Municipal de Educação e Esporte (SMEE), são utilizados para subsidiar a investigação e complementá-la. Foi possível descrever e analisar o que chamei de laudolatria, uma apologia ao laudo como “uma solução, um alívio, um facilitador da aprendizagem, uma certificação, um norteador do atendimento no LA”. São as práticas de apoio pautadas nos laudos/diagnósticos que colocam a (não)aprendizagem em uma ordem discursiva que considera esses conceitos de aprendizagem e não-aprendizagem como naturais; por não serem questionados, são assumidos como verdade, e não como uma invenção construída também nos LAs. Essa idolatria dos laudos – a laudolatria – regula o processo de (não)aprendizagem e conduz as práticas dos LAs – práticas de apoio (psico)pedagógico e clínico-terapêutico. Ao mesmo tempo, foi possível descrever e analisar outro conjunto de práticas de apoio, que estou chamando de lúdico-afetivas porque utilizam a brincadeira e o jogo como recursos para promover uma aprendizagem prazerosa, ao mesmo tempo em que atribuem centralidade ao vínculo afetivo, ao amor e ao carinho ao conduzirem o processo de aprendizagem. Desse modo, procurei identificar e analisar os discursos das ciências psi que evocam o prazer e o afeto e fazem deles balizadores para as práticas de apoio desenvolvidas nos LAs.