Resumo:
O budismo, uma das grandes religiões mundiais, conheceu um processo de expansão para o Ocidente desde o século XIX, ao mesmo tempo em que, no Oriente, viu-se ameaçado pela redução do número de adeptos e pela proibição de sua prática por regimes ditatoriais instalados nos países asiáticos nos períodos do colonialismo e do pós-guerra. A partir de 1950, passou a manifestar uma nova característica, de engajamento social e político, expressa em projetos sociais budistas que surgiram em diferentes continentes e países. Essa nova configuração, entretanto, ainda se baliza em conteúdos típicos da tradição milenar asiática, tais como a meditação, a não-violência, a compaixão, a não-identidade e a ênfase na vida humana preciosa e na interdependência. Tais concepções entraram em contato com a cultura racional e individualista da modernidade ocidental. Nesse contexto, as ações de engajamento, sustentadas em uma teoria social budista própria, interpelaram a percepção sociológica clássica a respeito do budismo, no sentido de constituir uma religião introspectiva, de renúncia contemplativa do mundo. Diante dessas questões, esta tese buscou verificar como a evolução histórica do budismo, em particular o budismo engajado, tem acarretado alterações na natureza dessa religião e como, em contrapartida e dentro de novos termos, o budismo engajado tem preservado e promovido a cultura e os valores budistas no mundo moderno. Em paralelo ao estudo do budismo engajado no mundo e no Brasil, uma pesquisa em instituição budista brasileira, por intermédio da pesquisa participante, buscou caracterizar essas práticas, identificar seus efeitos sobre seu público-alvo e avaliar sua contribuição para as iniciativas de promoção social. Concluiu-se que, a partir dos efeitos da colonização, modernidade e globalização, as instituições budistas vêm manifestando maior envolvimento social. O budismo, caracterizado por Weber como uma religião de renúncia contemplativa do mundo, assumiu uma feição de engajamento no mundo. Os projetos sociais budistas conciliam os elementos gnósticos milenares típicos do budismo com a ação social budista, que seguem as orientações do dharma budista aplicado ao campo social. Esse encontro do gnóstico com o racional pode trazer contribuições e inovações ao campo das ciências sociais aplicadas e também promover a preservação e ampliação do budismo.