Resumo:
Esta dissertação tem como tema a reforma do Ensino Médio Politécnico no Rio Grande do Sul, proposta pela Secretaria Estadual de Educação (SEDUC), no período de 2011 a 2014. Na pesquisa, tentamos evidenciar as implicações e contradições da reestruturação curricular no contexto da prática, considerando o processo tenso e conturbado observado em toda a rede estadual de ensino. Para tanto, realizamos um estudo de caso na Escola Estadual de Ensino Médio Emília Viega da Rocha, situada no município de Gravataí/RS, por entender que esta realidade é um exemplo significativo e explicativo das contradições geradas no chão da escola, a partir da implementação da reforma. Como instrumentos metodológicos, servimo-nos de entrevistas semiestruturadas com os gestores escolares, questionários mistos com os professores dos Seminários Integrados, participação em reuniões de formação de professores e observação do cotidiano escolar, a fim de detectar a forma como a escola organiza, sistematiza e ressignifica sua prática a partir das orientações da reestruturação curricular proposta. Utilizamos como referencial a perspectiva histórico- crítica para a retomada da história deste nível de ensino, o entendimento da proposta da SEDUC/RS e a compreensão e explicação do contexto da prática, dialogando com obras de Antonio Gramsci, Acácia Kuenzer, Demerval Saviani, Mônica Ribeiro da Silva, Gaudêncio Frigotto, Marise Ramos, David Harvey, Antonio Teodoro, Vera Peroni, dentre outros. Constatamos que o contexto da prática escolar, ao mostrar as resistências, ressignificações, reconfigurações da política, permite evidenciar as contradições geradas a partir da sua implementação. Disso decorre que a proposta apresenta limites e possibilidades para a construção de uma escola com qualidade social para todos. Ao mesmo tempo em que a reestruturação curricular traz em seus marcos teórico-metodológicos a perspectiva do trabalho como princípio educativo, a pesquisa científica como princípio pedagógico e a avaliação emancipatória, numa perspectiva inclusiva, a pesquisa aponta que, no contexto da prática, novas visões e interpretações podem alterar os rumos da política. Ou seja, pela proposta inicial, referenciada na pedagogia socialista de Gramsci, o trabalho é tido como constituidor do ser humano na sua interrelação com a natureza, no seu valor de uso. No entanto, a realidade hegemônica da sociedade atual (e a escola analisada não foge disso) tem o trabalho como valor de troca, tende a reproduzir os ditames do mercado capitalista, de avaliação como poder/dominação/competição e de preparação simplista para o mercado de trabalho. A pesquisa oportunizou perceber que a proposta em implementação apresenta um conjunto de limites, dentre os quais a questão da falta de compreensão da proposta, o despreparo dos professores, a tendência à formação dos jovens para o mercado de trabalho, as dificuldades infraestruturais e a resistência à forma como a avaliação emancipatória foi colocada pela SEDUC/ RS. Concomitantemente, ficaram evidentes alguns avanços na autonomia da gestão escolar e de professores para a construção de um currículo mais próximo ao que julgam serem as necessidades dos estudantes, a formação pedagógica de professores na escola, a metodologia de trabalho com pesquisa científica, possibilitando o repensar de questões historicamente postas como verdades absolutas. Mesmo com tamanhas contradições, defendemos que uma reforma educacional não resolve os problemas da educação, mas aponta para novas possibilidades de repensar este nível de ensino.