Resumo:
Nesta pesquisa nos propomos a perguntar para o passado, sempre em movimento, em função das vivências do(s) presente(s), sobre da ocupação açoriana, no Rio Grande do Sul, da presença de marcas identitárias, desse grupo no espaço inicialmente ocupado e como foram construídas algumas concepções hoje naturalizadas sobre os mesmos. A Tese Conversas com Açorianos: entre as memórias e os conflitos trabalha com a ideia de que são as experiências, as memórias , as temporalidades organizadas pelo mundo imaginal que atualizam a história da açorianidade destas comunidades que vivem na Região do Parque Nacional da Lagoa do Peixe. Território que compreende parte do litoral sul do Estado, entre os Municípios de Mostardas até a chamada Vila do Bojuru, passando por Tavares e região das Lagoas. A Lagoa do Peixe exerce um papel bastante importante nesse território porque aparece nas narrativas de cronistas, nos relatórios oficiais e está presente na vida destas comunidades ainda hoje. A pesca na região enfocada é tida como um ofício, uma arte manual, uma obrigação natural dos que ali residem. Para os pescadores profissionais, credenciados pelo IBAMA, é o meio de vida. Porém, a pesquisa de campo demonstrou que tal atividade é praticada por muitas pessoas (além das credenciadas), como lazer e como “ofício” e por sua vez, o Parque Nacional da Lagoa do Peixe abrange, como área de preservação um território muito frequentado por nativos locais. Nesta pesquisa as “imagens da memória” construídas através dos registros historiográficos, num primeiro momento e pelos relatos dos “açorianos do presente”, são concebidas como camadas de tempo sobrepostas e quem comanda este tempo é a duração dos acontecimentos. A colonização portuguesa e sua política de ocupação e povoamento providenciou a vinda de “casais açorianos”. Muitos deles obtiveram as “terras prometidas”, porém outros tantos não. Eles itineraram sob um vasto território, formaram as primeiras freguesias e de lá para cá muita coisa mudou. Esta temporalidade está registrada na história e na historiografia sul-rio-grandense. Também está acolhida e protegida pelo folclore. Verificar as marcas e os sinais da açorianidade hoje implica em trabalhar com as múltiplas temporalidades contidas na história dos açorianos no Rio Grande do Sul e presentes nos rituais, nas artes, nos ofícios, nos saberes deste “açoriano-brasileiro do presente”. É a história, registrada na historiografia, na arquitetura da época, nos objetos, que atualizam esta memória que é transportada no tempo pelos sujeitos envolvidos. Estes movimentos de idas, vindas e retornos só podem ser percebidos através da perspectiva da “longa duração” e percorrendo a poética das narrativas que passeiam nas múltiplas temporalidades.