Resumo:
O presente trabalho constitui-se em um estudo sobre as imbricações entre religiosidade, paisagem e identidade, tendo como campo etnográfico o Caminho das Graças, um empreendimento de turismo religioso que tem como foco proporcionar um espaço de fé local. Idealizado e mantido por moradores da localidade do Banhado Grande, que se situa entre duas atrações turísticas, – o Parque do Caracol e o Parque da Ferradura –, está inserido em um bairro da zona rural do município de Canela, Rio Grande do Sul, Brasil. O Caminho tem o percurso de sete quilômetros, atravessando pequenos sítios e moradias de famílias locais. Em frente a cada propriedade foi disposto, por essas famílias, um capitel com um santo de devoção, conduta que tem como referenciais a imagética devocional do santoral católico. Os materiais utilizados na construção dos capitéis, assim como suas concepções estéticas, são variados e criativos, explicitando maneiras de utilizar ou adaptar os recursos locais. Essa articulação produz um caminho religioso de ambientação híbrida, elaborado a partir da convergência do lugar e não lugar, composto por agenciamentos turísticos, religiosos, paisagísticos e identitários. O processo investigativo se efetivou por procedimentos orientados pelo método etnográfico, por meio da análise situacional, a partir de técnicas de observação participante, entrevistas semiestruturadas, livros de registros e recursos audiovisuais. Dessa forma, a pluralidade das narrativas foi o escopo para as análises das imbricações do processo de identidade local, por meio da identidade da ação, assim como das interações da religiosidade contemporânea e seus agenciamentos. Essa análise sociológica é fundamentada em considerações fenomenológicas que viabilizam a concepção da intersubjetividade como orientadora da compreensão dos diferentes espaços que o Caminho das Graças proporciona. Observou-se o Caminho das Graças enquanto um contexto empírico, portanto intersubjetivo, plural e significante, mostra-se como uma biografia subjetiva e complexa. Um cenário que estabelece interações por meio de sociações (SIMMEL, 1996), a partir dos processos objetificadores (CSORDAS, 2008), que elaboram o relacional e constituem as histórias das configurações dos diferentes lugares do lugar proporcionando a investigação da “alma do lugar” (YÁZIGI, 2002). Pois, se desvela como um projeto coletivo que objetiva proporcionar o bem-estar por meio de uma experiência espiritual, a partir da religiosidade em contato com a natureza, vivenciada na paisagem a reflexividade necessária.