Resumo:
O Movimento Feminino pela Anistia no Rio Grande do Sul (MFPA-RS) foi constituído como objeto de análise deste trabalho. Caracterizado aqui como um movimento social, este grupo de mulheres foi pioneiro na luta pública pela anistia, transformando o projeto distensionista do governo Geisel, o que nos sugere a afirmativa de que a Lei da Anistia aprovada em 1979 é resultado de um embate e não pode ser encarado como uma simples concessão. O MFPA-RS foi analisado em duas fases: nos primeiros anos (1975, 1976, 1977) o movimento se apresentava pela pacificação da família brasileira, momento em que as ações se resumiam em conseguir adesões e alcançar a política formal; a segunda fase do MFPA-RS (1978-1979) se classifica pelos anos mais efervescentes de luta na qual a presença das mulheres do MFPA-RS nos Congressos, Reuniões e Encontros Nacionais pela Anistia fez com que estas modificassem seu discurso de pacificação pela família brasileira, radicalizando-o pela Anistia ampla, geral e irrestrita, como sugerido pelos CBAs. Os deslocamentos das mulheres e os vínculos construídos por elas durante a trajetória do MFPA-RS foram essenciais para compreendermos suas transformações e o quanto as associações da sociedade civil interferiram, direta ou indiretamente, nos avanços e recuos do movimento. Assim, reconstruímos a trajetória política do MFPA-RS e de suas lideranças utilizando como fontes o acervo organizado pelas ex-presidentes do grupo, disponível no Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, além de algumas entrevistas realizadas com protagonistas do grupo ou familiares próximas a elas, embasadas na metodologia de História Oral Temática. A hipótese que traçamos é a de que este movimento deve ser valorizado como o precursor da resistência pública que contribuiu, juntamente com os demais movimentos que se formaram pelas liberdades democráticas, para a formação de uma cultura política democrática no estado do Rio Grande do Sul. É possível identificar os protagonistas da luta pela anistia na capital e no estado gaúcho, e com isto preencher algumas ausências do período ditatorial na historiografia riograndense.