Resumo:
A partir da análise dos conteúdos de livros de medicina, psicologia e educação publicados no Brasil, entre os anos 1920 e 1970, realiza-se a argumentação de que um conjunto de ideias sobre a homossexualidade foram configuradas e constituíram-se em saberes médicos pedagogicamente articulados, visando gerir os sujeitos categorizados como homossexuais, os quais denominei de pedagogia dos manuais médicos. A tese defendida é também que essa pedagogia influencia ainda hoje o pensamento de quem escreve sobre a homossexualidade. Entretanto, foi possível, perceber nessa análise que um movimento contrário é exercido por outros/as escritores/as, visto que nos acervos das bibliotecas consultadas há obras que aprensentam conteúdos que tentam desconstruir as ideias sobre o/a homossexual veiculadas pela pedagogia dos manuais médicos. A construção da tese de que essas produções ensinam como conduzir sujeitos qualificados de homossexuais, ditando formas de tratar, curar e posicioná-los/as mediante a lógica heterossexual de viver a sexualidade, foi baseada em um conjunto de pressupostos médicos inscritos em 43 livros tendo como perspectiva de análise a teoria Queer. Foram utilizados os fundamentos da análise documental. O material de pesquisa foi categorizado e dividido em dois corpora: corpus 1 - livros de medicina, psicologia e educação publicados entre os anos de 1928 a 1978 (catalogados a partir de quatro bibliotecas: três em Porto Alegre/RS e uma em São Luís/MA) - e corpus 2 - livros de sexualidade e educação sexual (catalogados a partir de quatro bibliotecas de escolas públicas de ensino médio em São Luís/MA). As ideias e representações sobre a homossexualidade veiculadas nessas produções vão do biológico-higienista, passando por ideias psicologizantes até discursos que focalizam o tema a partir de uma visão qualificada como desconstrucionista, visto que imprimem uma discussão pautada na contextualização e problematização do tema ao apresentarem o/a homossexual como uma pessoa que deve ser respeitada, valorizada e percebida como cidadã/o. A pedagogia dos manuais médicos está inserida nas práticas de educação sexual e em todos os espaços sociais e suas ideias podem ser percebidas em livros que abordam a temática da sexualidade. Ela ainda apresenta traços das proposições sobre o homossexual veiculadas no século XX, mas ganha outros contornos e age de acordo com as necessidades da cultura. As resistências a essa forma de ver a sexualidade homossexual também estão em constante movimento e uma possibilidade de reagir às operações dessa pedagogia cultural é problematizá-la, trabalhando-se com metodologias que introduzam discursos desconstrucionistas e presentificadores sobre os sujeitos que vivem a experiência homossexual.