Resumo:
Esta dissertação se propõe a analisar as relações internas de poder no Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre, ao longo do século XX, buscando entender como as religiosas da Congregação de São José conquistaram seu espaço em uma instituição voltada para o tratamento científico da loucura. A narrativa acompanha duas trajetórias, a de uma dessas freiras e uma paciente. Ambas viveram seus primeiros anos na região de colonização e imigração do Rio Grande do Sul e, posteriormente, por razões diferentes, de trabalho missionário e internação, respectivamente, passaram décadas dentro do hospital. Irmã Paulina está a 60 anos atuando no São Pedro, enquanto Anninka esteve internada na mesma instituição, em quatro períodos intermitentes, por cerca de 38 anos. Através destas personagens tentou-se reconstituir os momentos de tensão e harmonia entre estes dois campos teoricamente distintos, ciência e religião, mas que durante muitos anos andaram tão ligados no espaço manicomial gaúcho. No cotidiano de uma instituição de grandes proporções, com todos os problemas comuns aos demais hospícios construídos no Brasil a partir da segunda metade do século XIX, os próprios internados assumiram papéis de destaque em diversas áreas, tornando-se importantes auxiliares dos responsáveis pela administração do local, especialmente as Irmãs. A pesquisa para este trabalho foi construída por meio de documentação oficial vinculada ao Hospital, da historiografia especializada sobre o tema e, fundamentalmente, através de entrevistas realizadas com médicos, um funcionário, uma ex-paciente e Irmã Paulina, as quais foram concedidas ao autor especialmente para esta investigação.