Resumo:
Esta dissertação analisa um conjunto de discursos acerca das comemorações do sete de setembro no período de 1930-1945, como parte constitutiva do currículo escolar, a partir de publicações do Colégio Anchieta de Porto Alegre - RS. O objetivo do estudo foi mostrar a produtividade dessas comemorações, em termos de efeitos, a partir das práticas e do investimento de poder e saber enredados nessas práticas, na constituição de sujeitos. Interessou-me ver como se deu esse processo produtivo, a partir dos discursos que atravessavam as práticas que instituíam o modo de comemorar esses acontecimentos, produzindo posições de sujeito nesse processo. Para realizar a análise, inspirei-me em noções foucaultianas, tendo como central a noção de discurso inscrita numa perspectiva pós-estruturalista. Tento argumentar que existiam focos de poder produtivos, microfísicos, em toda a rede social, não apenas centralizados no Estado e na Igreja. Ao serem acionados esses micropoderes, estabeleceram-se modos de comportar-se, de ser e de viver condizentes com uma sociedade em processo de modernização, atendendo, também, a um regime político autoritário e aos postulados da Igreja Católica. Compõem o corpus da pesquisa um conjunto de dezoito exemplares da Revista "O Eco" e dezesseis relatórios anuais, ambos publicados pelo Colégio Anchieta, durante o período pesquisado. Organizei os enunciados a partir de regularidades, definindo os seguintes conjuntos discursivos: disciplinamento do corpo para viver no coletivo; ordem; progresso e liberdade; cidadania; sacralização da Pátria; invenção de um passado. O entrecruzamento desses conjuntos discursivos constituía posições de sujeito estabelecendo modos específicos de ser cidadão brasileiro: disciplinado, culto, patriota, masculino e cristão.