Resumo:
Estudos linguísticos e etnográficos informam que os grupos Jê Meridionais, cuja origem remonta ao planalto central brasileiro, teriam iniciado sua migração em direção ao planalto sul do Brasil há, aproximadamente, 3.000 anos atrás. O momento de sua chegada às terras altas de Santa Catarina ainda é desconhecido, contudo, é indiscutível que durante todo o seu processo de ocupação empreendido sobre o planalto sul brasileiro, os Jê Meridionais mantiveram uma relação muito estreita com o ambiente, percebendo as mudanças climáticas e alterações ocorridas principalmente na composição biótica da região (fauna e flora), elaborando respostas adaptativas às transformações naturais, e transformando a sua organização social. Partindo desses pressupostos, o presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de captar elementos que nos permitam identificar estratégias de adaptação e assentamento desenvolvidas por esses grupos na área do sítio Rincão dos Albinos. O sítio arqueológico Rincão dos Albinos está situado no município de São José do Cerrito, planalto dissecado do Estado de Santa Catarina, em área de drenagem da bacia hidrográfica do Rio Canoas. O sítio é composto por 107 casas subterrâneas, dispostas em uma área de 200 metros de raio e as datas obtidas dentro e fora de estruturas habitacionais sugerem que a ocupação teve seu início há 1.400 A.P., período em que a região do planalto catarinense é, majoritariamente, coberta por campos recortados por rios e córregos acompanhados de pequenas matas com araucária. Foram elaborados produtos cartográficos temáticos em escalas variadas que apresentam dados específicos do sítio, tais como a distribuição das estruturas e suas relações com o espaço onde estão inseridas; e características físicas regionais, abrangendo o médio curso do Rio Canoas. Tais materiais nos possibilitaram fazer uma leitura mais ampla do espaço onde o sítio está inserido, que, juntamente com a análise de dados paleoambientais, geográficos, ecológicos e culturais, nos fizeram perceber que o sítio Rincão dos Albinos registra - tanto nas camadas de ocupação das casas subterrâneas, quanto na paisagem - ao menos, dois períodos de transição cultural e ambiental.