Resumo:
Esta dissertação tem por objetivo compreender de que maneiras a educação escolarizada se viu investida de uma função social relacionada às práticas de uso de drogas, ou, em outras palavras, compreender como a prevenção ao uso de drogas tornou-se uma demanda para o campo da Educação, sendo prescrita como conteúdo a ser obrigatoriamente incluso nos currículos escolares. Tomando como ferramenta analítica principal o conceito de governamentalidade, desenvolvido por Michel Foucault, e inspirando-se no estilo de pensamento e pesquisa desse filósofo, compreende-se a emergência da prevenção às drogas na Educação como efeito de uma racionalidade política que toma por objeto de gestão cada indivíduo em particular e também a população em seu conjunto; que funciona principalmente a partir de um saber fundado no campo da Economia, operando cálculos a fim de obter a máxima eficiência com o mínimo emprego necessário de poder e de recursos financeiros; e, por fim, que se constitui, em sua efetividade, por meio de um aparato de técnicas, saberes, instituições, procedimentos e especialistas. A pesquisa sugere, de um lado, que a prevenção às drogas foi tornada uma demanda escolar a partir das próprias características históricas dessa instituição, potencialmente capaz de instituir sujeitos úteis e dóceis e de fazer circular um poder que, antes preventivo do que repressivo, se apresenta como mais sutil e eficaz no sentido de conduzir as condutas e implementar as técnicas necessárias à produção de uma sociedade segura, saudável e produtiva. De outro lado, o uso de drogas instituiu-se como temática escolar através de sua configuração como "problema" a partir do funcionamento estratégico de saberes que, justificando e fazendo circular uma trama de poderes, tornaram a prevenção de práticas de uso de psicoativos nos espaços escolares uma questão "natural".