Resumo:
A pesquisa analisa o fenômeno da nostalgia na cultura contemporânea, desde sua origem enquanto uma doença de guerra, passando pela interpretação psicológica na qual associava-se à dor provocada pela passagem do tempo, até o entendimento recente concebido pela mídia: uma prática comunicativa desencadeadora de bem-estar. Em abordagem voltada ao cinema, a investigação possibilitou identificar processos da ordem técnica e estética utilizados enquanto estratégias para operacionalizar uma “nostalgização” das narrativas. Tais processos foram agrupados em seis coleções: referências; sequências, refilmagens e reimaginações; reconstrução de época; efeitos visuais; trilha sonora e roteiro. Ao abordar a audiovisualização da nostalgia, apoiamos-nos em Henri Bergson, a partir do conceito de duração, e Suzana Kilpp, por meio das audiovisualidades, para apresentar a proposta de “nostalgicidade”, uma virtualidade atuante na tecnocultura capaz de criar uma atmosfera potente para evocar memórias. A existência dessa qualidade nostálgica foi analisada no longa-metragem Jogador nº 1 (Steven Spielberg, 2018) a partir de movimento metodológico que articulou dissecação, desmontagem, escavação e desconstrução de imagens, retirando do fluxo 182 frames. Esse trabalho laboratorial, apoiado em Walter Benjamin e Massimo Canevacci, suscitou a elaboração de três constelações: nostalgicidade do corpo-espectador (inclusão de referências não identificadas pela narrativa que estimulam o espectador a travar um jogo de reconhecimento das origens e derivações de certas imagens), nostalgicidade do mundo do filme (destaque para referenciais explicitamente oferecidos, em diferentes variações e níveis de compreensão, demarcando tratar de uma obra audiovisual que articula referências culturais) e nostalgicidade histórica-temporal (instauração de ambiência aurática oriunda de um período do passado que pulsa determinado imaginário tecnocultural). Enquanto as coleções estão no nível material, as constelações estão na ordem da potência. São durações tanto de Jogador nº 1 quanto da nostalgicidade audiovisual, o que as possibilita de serem atualizadas em outras obras cinematográficas.