Resumo:
Em 2020, em função da pandemia, diversas pessoas aderiram às redes sociais, principalmente ao Twitter, a fim de obterem informações relacionadas à doença – colocando, assim, luz sobre a ciência. Diante dessa conjuntura, as maneiras de divulgar ciência precisaram ser revistas e adaptadas ao novo contexto. Uma das novidades foi o fato de muitos cientistas utilizarem-se das suas próprias contas pessoais, nas redes sociais, para divulgar ciência. O objetivo geral é verificar como acontece a construção da imagem de divulgadores científicos no ecossistema Twitter, analisando a presença do discurso de extimidade (fragmentos de intimidade com intuito de validação social) na construção do ethos. Para isso, foram selecionados os perfis de dois divulgadores, Denise Garrett e Otavio Ranzani, médicos epidemiologistas que fazem divulgação da ciência no Twitter, com grande repercussão. Os aportes teóricos que norteiam esta pesquisa são a Teoria do Discurso Digital, de Marie-Anne Paveau (2015, 2016, 2021), que trata das características específicas dos discursos digitais nativos; e os postulados de Ruth Amossy (2005) e de Dominique Maingueneau (2001, 2008, 2014, 2020) relativos aos estudos do ethos discursivo. O tipo da pesquisa é misto (qualitativo e quantitativo), e o corpus de estudo é composto de 128 capturas de tela, sendo 4 das biografias (bios) dos divulgadores, 82 de tuítes publicados por Denise Garrett e 42 de tuítes publicados por Otavio Ranzani em suas respectivas contas pessoais no Twitter. Das 128 capturas, optamos por analisar aquelas que melhor exemplificam como ocorre a construção da imagem dos divulgadores em questão. Os achados da pesquisa indicam mudanças no modo de divulgar ciência e apontam para o surgimento de um novo tipo de ethos mais humanizado dos cientistas e divulgadores científicos.