Resumo:
Esta tese analisa aspectos da trajetória de Francisco Rodolfo Simch (1877-1937) sob
o prisma da história das técnicas e da história cruzada, sendo a Mina de Gravataí um
testemunho da mineração estatal, no princípio do século XX. Como Desembargador,
Professor da Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre, membro do governo do PRR,
egresso da Escola de Minas de Ouro Preto e passeur do conhecimento científico,
Francisco Rodolfo opera variações de escala ao protagonizar suas atividades,
conduzindo a uma dimensão transnacional da siderurgia e à relação entre homem
político e técnica. Na Primeira Guerra Mundial, a implicação estatal na busca de
autossuficiência energética e no aperfeiçoamento dos transportes levou à retomada
dos debates sobre o Porto de Torres, à criação do Serviço Mineralógico e Geológico
e à exploração da Mina de Gravataí como lavra de carvão modelo, sob sua direção.
O biografado defendia a produção e o transporte de coque no espaço Mina de
Gravataí – Porto de Torres e a mineração do metal estratégico tungstênio para superar
bloqueamentos à mutação do sistema técnico da siderurgia e promover a industrialização. A pesquisa evidencia mudanças nas características da mineração
estatal com a sucessão do governo estadual em 1928, a crise econômica de 1929 e
a Revolução de 1930, repercutindo no desenvolvimento da ciência e da técnica
siderúrgica no Brasil. A análise das fases da vida do biografado, situadas nas
dimensões da técnica e da circulação do conhecimento científico, utiliza como fontes
suas publicações, arquivos particulares e administrativos, possibilitando identificar sua
formação intelectual e alguns grupos primários de interação, como a Secretaria de
Obra Públicas. Fontes inéditas da Alemanha esclarecem o desfecho do projeto do
Porto de Torres de 1930 e o acervo particular apresenta relatório requisitado pelo
governo caracterizando práticas técnicas, equipamentos utilizados e a qualidade do
coque obtido, trazendo o tema da expertise dos funcionários estatais e sua capacidade de adaptação conforme as oportunidades técnicas oferecidas pelo desenvolvimento industrial. O espaço Mina de Gravataí – Porto de Torres esbarrou em obstáculos de ordem política, econômica e administrativa, porém deixa rugosidades na sociedade contemporânea, com o debate renovado destes temas.