Resumo:
Este trabalho procura delinear que obtemos quando analisamos o pragmatismo e o empirismo radical de William James à luz de algumas das exortações mais recentes da filósofa e bióloga Donna Haraway, e vice-versa. Como alternativa à noção ou narrativa de Antropoceno — ou seja, a época do ser humano, na qual as ações antropogênicas teriam tido um efeito aterrador e irreversível nas condições de vida do planeta — Haraway propõe o Chuthuleno, que, uma vez que não admite os extremos do pessimismo e do otimismo, demandaria nossa reflexão e nossa atuação. Já o pragmatismo jamesiano é, em termos simplificados, um método para testar as consequências práticas de certas filosofias, noções ou conceitos. O empirismo radical, mais difícil de definir, postula um instante de experiência pura em que as distinções comuns, ou os tradicionais dualismos,
ainda não se deram. A ideia de presente acolhe, portanto, tanto a ideia da experiência pura em que essas divisões ainda não foram feitas quanto nossa capacidade, em um sentido mais metafórico, de levar a cabo uma reflexão que torna presentes as consequências práticas de nossas ações, e que remete à própria necessidade de ponderação no Chthuluceno. Como veremos, o empirismo radical e o pragmatismo enquanto método sem dúvida podem respaldar, ampliar e potencializar a narrativa ou a noção de Chthuluceno proposta por Donna Haraway em Staying with the Trouble. Isso não significa que ambos permaneçam idênticos. A rejeição da categoria de crença
por parte de Haraway terá de ser revista, bem como a inspiração baconiana do pragmatismo de James.