Resumo:
Este trabalho de investigação procura estabelecer o processo de constituição do discurso idolátrico durante o período colonial inicial, entre os anos de 1532 e 1590, no território do vice-reino do Peru. A pesquisa procura esclarecer os diversos momentos pelos quais se foi conformando uma maneira de ver, representar e explicar o conjunto de crenças religiosas indígenas de acordo com uma visão de mundo ocidental e cristã. Fazendo uso de fontes históricas, tais como crônicas, relações, doutrinas, confessionários, sermões e dicionários, se procurou analisar como eram descritas as idolatrias indígenas e as relações que se estabeleciam com o dogma e as crenças cristãs. Dessa maneira, o discurso idolátrico começa a constituir-se sobre os elementos que respondiam a uma herança aristotélica e escolástica, dentro de um contexto colonial hispânico e em torno da descrição e representação de elementos culturais indígenas – como as huacas, os ídolos e as múmias ou mallquis – que passariam a ser caracterizados como idolátricos. Constitui, também, um elemento central do processo de evangelização nos Andes, a realização do Terceiro Concílio de Lima – em 1582-1583 – e a obra do jesuíta José de Acosta. É com a análise dos documentos produzidos com ocasião do Concílio e a obra de Acosta que se pode afirmar que o processo de constituição do discurso idolátrico se completa, na medida que produz uma representação instrumentalizada dessas crenças religiosas para servir à evangelização dos indígenas.