Abstract:
O estudo trata das percepções sobre um projeto escolar denominado Kizomba – Festa da Consciência Negra. Este ocorreu entre os anos de 1988 e 2002 na Escola Estadual de Ensino Fundamental Manoel de Souza Moraes, em Montenegro, Rio Grande do Sul. Objetiva analisar as memórias de professoras e ex-alunas que dele participaram, buscando compreender, a partir de suas narrativas, motivações, realizações, alcances e limitações deste projeto escolar. Utilizou-se a metodologia de história oral e as narrativas produzidas foram analisadas sob as fundamentações de Augustín Escolano Benito, Antonio Viñao Frago, Dominique Julia, Nilma Lino Gomes, Stuart Hall, Tomaz Tadeu da Silva e Kathryn Woodward. O projeto Kizomba, emergente no contexto da redemocratização política do país e dos intensos debates mobilizados pelo Movimento Negro, pode contribuir para a cultura escolar da instituição. Dentro da perspectiva empírica, percebe-se que esta ação dialogou com as lutas do Movimento Negro colaborando para a formação pedagógica sobre a temática étnico-racial, ainda incipiente no período de execução do projeto. A sensibilização docente, revelada e assumida pelas professoras entrevistadas indicam os esforços empreendidos por elas para tornarem o educandário um espaço plural em que as diferenças étnicas deveriam ser respeitadas. A dissertação que se apresenta, inscrita no quadro da História da Educação, aponta as aproximações entre o Movimento Negro e as instituições escolares, sobretudo a que possibilitou a existência do Kizomba, bem como revela as práticas educativas utilizadas no projeto. Destaca-se que a execução deste projeto, que é anterior à promulgação da Lei 10.639 de 2003, pôde ser um dos ensaios que legitimavam a educação para as relações étnico-raciais, atualmente, previstas em diretrizes legais.