Resumo:
Essa pesquisa objetiva movimentar o problema de como as práticas de leitura e escrita docente podem operar com o exercício de pensamento atravessadas pelo cuidado de si. Considerando leitura e escrita como possibilidade de práticas de subjetivação, que podem provocar o pensamento e convidar a professora a assumir, mesmo que em brechas, o cuidado de si, pois, imbricada no exercício de ocupar-se de si e cuidar de si, convida o outro – seu estudante – a também fazê-lo e o acompanha nesse cuidado. Partindo da filosofia da diferença, o mote da pesquisa é pôr em funcionamento um modo de experimentar leituras e escritas com professoras e perceber como podem implicar modos de subjetivação, cuidado e pensamento. Assim, os conceitos-chave da pesquisa são pensamento, cuidado de si, leitura e escrita, tendo embasamento em autores como Foucault, Sêneca, López, Larrosa, Kohan, Sibilia, Han, Skliar, Aquino, Olegario e Munhoz, entre outros. Para tanto, foi produzida uma oficina filosófica e literária com professoras de uma rede pública municipal no Estado do Rio Grande do Sul, que objetivava operar outras relações com a leitura e a escrita, experimentar outras literaturas e criar tempo e espaço para ler e escrever, a fim de provocar o exercício de pensamento e o cuidado de si. Com inspiração na potência do gênero epistolar, embasada em Foucault e Sêneca, a dissertação foi escrita em formato de cartas, assim como os exercícios da oficina propunham ler e escrever cartas. As produções da oficina foram examinadas a partir da cartografia, embasada em Kastrup, Passos e Escóssia, cujas pistas teórico-metodológicas indicam o acompanhamento do processo de subjetivação das participantes, a criação do território existencial comum e a validação com os pares. Foram traçadas, assim, três linhas cartográficas: tempo – discussão sobre os diferentes atravessamentos de temporalidades que marcaram os encontros, qual sua importância nos exercícios de leitura e escrita e a potência de sua suspensão; docência – discussão da responsabilidade docente ética e estética, precarização da profissão e a discussão da potência de uma formação docente que dá tempo ao ler, escrever e pensar; encontro – discussão sobre as relações entre docência, leitura, escrita e subjetivação a partir de acontecimentos e experiências, o ensaio pela escrita de si, e as reverberações na escola de um professor que lê e escreve. Com isso, foi possível pensar outros modos de lidação com a leitura e a escrita na escola em se tratando da formação de professoras; modificar as relações que se estabelece com a literatura, com a escrita e a leitura, consigo mesmo e com o outro; suspender o tempo, criar um espaço de experimentações e ampliar repertório; e viver experiências de cuidado em brechas microfísicas que produziram efeitos de subjetivação e fagulhas de encantamento docente.