Resumo:
Diversos estudos foram realizados acerca do processo de endividamento do Estado no Brasil, mas poucos pesquisadores dedicaram-se a estudar seu papel de credor no sistema interestatal capitalista. Em 1850, no contexto da Guerra contra Oribe e Rosas, o Brasil tornou-se credor do governo que estava sitiado em Montevidéu. Essa relação creditícia que parecia circunstancial expandiu-se temporal e territorialmente, consolidando dívidas de longo prazo do Uruguai e da Argentina para com o Brasil. Tal política de empréstimos ficou conhecida como Diplomacia do Patacão e durou até 1867, já em meio à Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai. Nesse contexto, o barão de Mauá, que agiu inicialmente como intermediário dos empréstimos brasileiros, passou a expandir seus negócios criando diversas agências bancárias na região da bacia platina, entrelaçando seus interesses ao do governo imperial. O objetivo deste trabalho é, portanto, investigar como essa relação de crédito do tabuleiro regional platino funcionou ao longo da segunda metade do século XIX. É uma pesquisa documental, que se apoia em fontes pesquisadas em arquivos no Brasil, Argentina e Uruguai, assim como em acervos disponíveis na internet; mas também é uma pesquisa bibliográfica, baseada em historiografia produzida nos três países. Partindo de uma abordagem interdisciplinar que congrega História Econômica e Economia Política Internacional, os resultados da pesquisa indicam a Diplomacia do Patacão foi apenas um dos fatores que fizeram parte da “política brasileira de potência periférica” na região da bacia do rio da Prata, mas pode ser um fator preponderante do ponto de vista da história econômica, pois representou uma espécie de casamento entre poder político e capital privado.