Resumo:
Esta tese analisa o processo de territorializações operadas entre 1953-2006, por comunidades rurais chiquitanas relacionadas com ex-reduções jesuíticas na Província de Velasco - Departamento de Santa Cruz de La Sierra, Bolívia. A partir de fontes escritas, audiovisuais e orais, bem como de manifestações do patrimônio material e imaterial, observamos que estas territorializações e as identidades étnicas a ela ligadas, apresentam continuidades e rupturas no tempo. Na tentativa de compreender este processo, analisamos a comunidade chiquitana, entendida como a expressão de uma realidade complexa e heterogênea, é um conceito ambíguo, articulando populações que mantêm relações primárias, opera na organização de estruturas, cargos, funções e formas de decisões; relaciona território e manejo conforme costumes ou tradições específicas; mantém práticas culturais comuns como territorializar, celebrar, festejar, instituir lugares da memória, comunicar-se em idioma próprio, etc. Mostramos que, sem territórios comunais e organização, não há comunidades chiquitanas na Bolívia. A organização política e de poder nas comunidades, no movimento étnico verticalizado ou na articulação com outros povos indígenas, aparece como novidade política. Esta novidade despertou, no discurso e na prática, a disputa de poderes estatais em vários níveis e na retomada da justiça comunitária, conforme os usos e costumes, reconhecidos em lei. Ressaltamos conquistas e aprendizados destes chiquitanos que apontam para estratégias futuras nas organizações de comunidades indígenas, no apoio de ONGs, da Igreja Católica, de universidades, de empresas e do Estado boliviano nos seus diversos níveis e áreas.