Resumo:
Nesta tese, analisamos as estratégias acionadas para a concretização dos objetivos da Neocristandade, a partir da trajetória intelectual do cônego Luiz Gonzaga do Monte (1905- 1944) – construída e alicerçada nos princípios desse movimento –, procurando discutir como e porque ele foi descrito como santo e sábio por biógrafos e admiradores leigos e religiosos. Partimos da hipótese de que a sabedoria e a santidade imputadas a Monte podem ser explicadas a partir de quatro elementos, cujo alcance só pode ser compreendido se considerados em conjunto, a saber: as diretrizes adotadas pela Igreja Católica na primeira metade do século XX; a ação dos intelectuais natalenses e dos admiradores de Monte; a trajetória do próprio Monte, assim como as redes de relações sociais que ele estabeleceu, e a cultura política vivenciada em Natal durante o período de seu sacerdócio e após sua morte. Defendemos, portanto, que as imagens de santo e sábio construídas sobre Padre Monte foram estrategicamente utilizadas tanto para o atendimento das diretrizes estabelecidas pela Igreja Católica no período, quanto decorreram e se consagraram em função das redes pessoais e institucionais das quais participou. Para fundamentar a investigação foram acessados jornais, em especial, A Ordem, livros escritos por Monte e três biografias produzidas sobre ele, além dos dez volumes da Antologia do Padre Monte e de entrevistas. A tese, que se vale do referencial teórico-metodológico da História Cultural, da História Política e da História Intelectual, em produtivo diálogo com a microhistória italiana, está estruturada em três capítulos, nos quais são abordadas a vida familiar, a formação sacerdotal e a atuação como professor e clérigo de Monte, bem como as redes de relações pessoais que construiu e os espaços de sociabilidade que frequentou. Nela, são discutidas estratégias adotadas pelos admiradores de Monte para apresentá-lo como um “homem superior aos outros homens”, um homem “além do seu tempo”, a partir da identificação de quando e em que circunstâncias essa imagem de Monte foi construída, quem a construiu e que representações foram mobilizadas para essa construção, levando em consideração tanto o que os admiradores de Monte disseram sobre ele até a sua morte, em 1944, quanto depois de sua morte. São também abordadas a forma como ele expressou seus posicionamentos sobre questões debatidas internacionalmente e que afetavam a Igreja Católica, tais como o liberalismo, o comunismo, o nazismo, à Maçonaria, o Rotary Club, bem como em relação a temas ligados à ciência, como a Biologia, a Medicina e o Espiritismo. Mereceram também atenção as polêmicas que Monte travou, fundamentadas na Apologética Católica, com seus supostos adversários, tidos como inimigos da Igreja Católica. A partir da análise de suas manifestações na imprensa, demonstramos que o clérigo foi um atuante agente da Neocristandade no país, contribuindo significativamente para que a Igreja recuperasse seu poder e prestígio. Se, por um lado, as redes de relações que Monte constituiu, as produções intelectuais e as polêmicas travadas com adversários da Igreja contribuíram para que este objetivo fosse alcançado, por outro, após sua morte, seus admiradores deram continuidade a este projeto, reforçando sua sabedoria e santidade.