Resumen:
Neste estudo, buscamos identificar e discutir as concepções, diagnósticos e tratamentos de tumores empregados na região abarcada pela Província Jesuítica do Paraguai na passagem do século XVII para o século XVIII, temática que não foi ainda contemplada nos estudos sobre a medicina praticada na América colonial. Para tanto, recorremos à documentação jesuítica, com destaque para as Cartas Ânuas e para tratados de medicina e cirurgia escritos por jesuítas, cotejando-os com a produção existente sobre tumores no mesmo período. Serão também utilizadas as listas de aquisições de medicamentos, de livros e de instrumentos pelos Procuradores da ordem jesuíta, a fim de compreender e avaliar a dinâmica de abastecimento das boticas dos colégios e das reduções mantidas pela Companhia de Jesus. As listas de aquisição de itens de botica revelaram o abastecimento periódico dos colégios e reduções, bem como a atuação de procuradores e intendentes/agentes coloniais, além da conformação de redes comerciais. A pesquisa dialoga com referenciais da História da saúde e das doenças, da Medicina e da História das ciências, levando em consideração a circulação e apropriação de saberes e práticas na Modernidade. No que tange às concepções sobre tumores por parte dos jesuítas, verificou-se que eles são percebidos tanto como males da alma, quanto como enfermidades corporais. Os diagnósticos, por sua vez, envolvem a descrição de características da coloração, da ausência ou presença de dor, inchaços ou acúmulos de humores, perceptíveis através do tato, e seus tratamentos são heterogêneos e influenciados tanto por práticas mágico-religiosas, quanto por procedimentos baseados no humoralismo. Tanto as Ânuas, quanto o Libro de Cirugía, manuscrito anônimo de cirurgia, que ainda permanece inédito, apontam para a realização de experimentos, para a apropriação de saberes locais e para o largo emprego de obras de autores clássicos e do período, revelando o caráter híbrido da medicina praticada nas reduções da Província Jesuítica do Paraguai.