Resumo:
O presente trabalho teve como objetivo geral compreender o cotidiano de pessoas em
situação de rua em Caxias do Sul - RS e seus modos de (re)existir. Para tal, utilizou se o referencial teórico das afetividades na dialética da exclusão-inclusão, cujas
reflexões auxiliam na compreensão do sofrimento ético-político decorrente das
afetações causadas pelas condições sociais (SAWAIA, 2003). O intuito foi conhecer
as vivências singulares dos sujeitos acerca da exclusão e das políticas de inclusão,
isto é, as emoções e os sentimentos que afetam o corpo e a subjetividade. Os
procedimentos utilizados na construção do corpus foram: diálogos com pessoas em
situação de rua, com uso do registro em diário de campo organizado; uma roda de
conversação com cinco pessoas em situação de rua e profissionais presentes no dia
da coleta. Para compreender afetivamente como são sentidas as relações com as
políticas públicas e organizações da sociedade civil, também foram realizadas
entrevistas individuais com profissionais inseridos em ONGS e em Políticas Públicas
no contexto. As informações coletadas foram analisadas na perspectiva da análise
temática, baseada na análise de conteúdo (BARDIN, 2008). Como resultados, a
pesquisa evidenciou uma diversidade de modos de vidas e de resistências da
população em situação de rua na cidade de Caxias do Sul/RS. Os/as interlocutores/as
expressaram seus próprios significados e sentidos para a urbanidade, demonstrando
a importância de olhar para a população em sua singularidade e integridade, escutar
seus desejos, emoções e suas próprias estratégias de vida. Destaca-se que a
população de rua vivencia o sofrimento ético-político, por meio dos maus encontros
experimentados na rua, sob a forma de humilhações, discriminação, rebaixamento,
violações de direitos humanos, às percepções negativas das políticas públicas, e,
principalmente, a culpa que recai sobre o indivíduo, por estar em situação de rua. Em
contrapartida, a rua se mostrou um espaço que reflete a multiplicidade do mundo e
das formas de re-existências, ainda que assujeitadas às condições de vulnerabilidade.
Os laços sociais construídos e algumas oficinas artísticas, permitiram identificar o
quanto as relações podem se transformar em redes potencializadoras, promotoras de
alegria e de liberdade de expressão. Salienta-se a importância da categoria
afetividade, como um caminho capaz de gerar modos de enfrentamento e resistência
nas situações adversas, e como fenômeno ético-político que deve ser estimulado
dentro dos serviços socioassistenciais.