Resumo:
A partir da grande expansão das escolas bilíngues no Brasil e salientando que o desenvolvimento de uma língua adicional hoje não é mais visto como uma disciplina autônoma e sim como uma prática situada no contexto autêntico da sala de aula, levando-se em conta a diversidade e a pluralidade cultural dentro do ambiente escolar integrando língua e conteúdo, questiona-se a gestão de sala de aula nesse contexto multifacetado na presença de um único professor. Assim, a proposta de pesquisa aqui defendida tem o objetivo de explorar novas possibilidades para organização da codocência, caracterizada aqui como dois/duas professores/as concomitantemente na mesma sala de aula, em contexto bilíngue, interagindo em duas línguas diferentes, dentro das escolas bilíngues e/ou com programa de currículo bilíngue, de forma a preconizar como se constituem os espaços de atuação e os diferentes papéis desses/as professores/as na gestão da sala de aula, evidenciando como se dá o uso das diferentes línguas nessas interações. Os dados essenciais para esta pesquisa são de base qualitativa e de cunho etnográfico e foram gerados a partir da análise dos planejamentos pedagógicos, da aplicação de questionários individuais e da realização de um grupo focal com caráter especulativo. A pesquisa revelou o entendimento das participantes acerca da codocência como sendo a presença de mais de um/a professor/a em sala de aula, sem que, necessariamente, cada um/a deles/as tivesse um papel definido. A prática codocente destacou-se como recurso reparador das demandas de tempo e logística da instituição. Com relação ao uso de duas diferentes línguas em um espaço compartilhado, ficou evidente o entendimento das professoras que, para ser um/a professor/a bilíngue genuinamente, deve-se ter conhecimento e proficiência na língua adicional. Os resultados evidenciam inúmeros benefícios da codocência para os discentes, sobretudo, o melhor aproveitamento da aula, maior atenção e compreensão dos conteúdos e ambiente mais seguro para a utilização da língua adicional. Para as docentes, destacou-se o melhor aproveitamento do tempo, a troca de experiências, a interdisciplinaridade, a melhor interação entre as professoras e o maior interesse pela educação bilíngue na escola. Para os discentes, quase não foram apontados desafios; e para as docentes, foram explicitados, como maiores desafios da prática, a necessidade de mais tempo e/ou melhor organização do planejamento integrado, esclarecimento sobre a definição dos novos papéis dos/as professores/as na sala de aula colaborativa e falta de oportunidades para se aproximar dos/as colegas para estabelecer vínculos. Segundo esses benefícios e desafios deliberados pelas participantes da pesquisa, foram dispostos orientadores incipientes para a codocência e elaborado um continuum, com a intencionalidade de promover uma reflexão mais profusa sobre a amplitude das possibilidades acerca desse modelo educacional. Esta pesquisa está organizada em cinco capítulos, sendo o primeiro uma introdução ao cenário de educação bi/multilíngue no Brasil e uma reflexão sobre as formas plurais de aprender do aluno do século XXI, seguidos do capítulo dos pressupostos teóricos, metodologia da pesquisa, análise e discussão dos dados, finalizando com as considerações finais com vistas à revisão de perspectivas de ensino atuais e atualizadas, levando-se em conta a diversidade e pluralidade cultural dentro do ambiente escolar.