Resumo:
Esta tese teve como objetivo analisar as apropriações realizadas por educandos de escolas públicas de São Gabriel (RS) nas atividades de oficinas educomunicativas sobre a temática migratória, na perspectiva do desenvolvimento de saberes críticos vinculados à construção da cidadania intercultural. Ancorada nos pressupostos da educomunicação – especialmente nas contribuições de Paulo Freire, Simón Rodríguez e Mario Kaplún – e no conceito de cidadania comunicativa, a pesquisa fundamentou-se na metodologia da pesquisa-ação. No campo das migrações, foram incorporadas abordagens críticas que compreendem a mobilidade humana em contextos globais, com base em autores como Cogo, Sayad, Appadurai e Martín-Barbero. Para contextualizar os processos migratórios no Brasil e no Rio Grande do Sul, dialogou-se também com autores como Patarra, Seyferth, Lesser e Hobsbawm. Para concretizar o projeto educomunicativo, foram realizadas oficinas s no Colégio Tiradentes da Brigada Militar que envolveram atividades de análise crítica de conteúdos midiáticos, contextualização da mobilidade humana – com foco nas migrações senegalesa, haitiana e venezuelana, etnias presentes em São Gabriel (RS) –, relatos de migrantes, produção de fanzines e debates sobre cidadania e interculturalidade. Os principais resultados apontam para a capacidade das práticas
educomunicativas de provocar deslocamentos de olhares sobre migração e mídia, ainda que de forma parcial e processual; para o fortalecimento da autonomia comunicativa de parte dos educandos, evidenciado nas análises críticas e nas produções de autoria com sentidos próprios e da escuta intercultural, os quais são sinais de uma cidadania comunicativa em construção; para a importância da articulação entre escuta ativa, autoria midiática e problematização crítica tecnologias digitais; e para a validação de ferramentas metodológicas, como o roteiro desconstrutor de narrativas midiáticas. A pesquisa reafirma que práticas de cidadania intercultural e crítica se constroem de forma lenta, situada e atravessada por mediações escolares, familiares e midiáticas. Conclui-se que a integração entre educação crítica da mídia e educação crítica das migrações constitui um caminho potente para a formação de sujeitos mais sensíveis, reflexivos e politicamente implicados com a pluralidade e os direitos humanos.