Resumo:
Os dispositivos móveis são elementos cada vez mais presentes no cotidiano dos indivíduos, configurando-se como ferramentas usuais para diferentes atividades, incluindo o consumo de informações. Ao mesmo tempo, os veículos tradicionais de mídia atravessam uma crise sistêmica, encontrando dificuldades para adaptar-se à era digital e às atuais mudanças no campo. Esta pesquisa soma-se aos estudos que buscam lançar luz às questões do jornalismo móvel, tendo como objetivo qualificar a produção do jornalismo para smartphones e tablets por meio da proposição de parâmetros para uma linguagem jornalística móvel autóctone. Para dar conta dessa proposta, foi desenvolvida uma pesquisa aplicada, estruturada a partir de três dimensões: teórica, empírica e experimental. Na abordagem teórica foram articuladas referências relacionadas à inovação, jornalismo móvel, e interface e arquitetura da informação. A dimensão empírica foi composta por uma pesquisa exploratória em aplicativos móveis jornalísticos, com descrição aprofundada dos apps DW e Quartz; levantamento on-line sobre acesso de notícias por estudantes de ensino superior brasileiros; observação do contexto de uso de smartphones por pós-graduandos residentes na Espanha; e teste de usabilidade no app do veículo Deutsche Welle. Com base na articulação do referencial teórico e achados empíricos foi possível propor parâmetros para uma linguagem jornalística para dispositivos móveis e elaborar e testar um protótipo baseado em algumas dessas diretrizes, correspondendo à dimensão experimental da pesquisa. Os parâmetros estão organizados em cinco categorias – público, conteúdo, narrativa, interface e estrutura –, subdivididas em 31 elementos que podem integrar produções do jornalismo móvel. A proposta é construída com foco em smartphones e jovens universitários, mas pode ser adaptada para tablets e outros públicos. O protótipo, por sua vez, representa uma versão em telas de um site ou aplicativo móvel jornalístico do projeto Beta Redação e foi avaliado por estudantes de ensino superior em um teste de usabilidade. Para além dos parâmetros, os resultados da pesquisa permitem compreender os smartphones e tablets como meios híbridos (MANOVICH, 2013), com características e contextos de uso singulares. A adaptação do jornalismo ao ecossistema móvel exige repensar a estrutura da linguagem jornalística, desde a escolha das pautas até o formato dos conteúdos. Entretanto, a investigação demonstra que grande parcela dos apps jornalísticos investe na transposição ou adaptação do conteúdo, evidenciando que ainda há muito a ser explorado. Trata-se de um cenário desafiador, mas, ao mesmo tempo, propício a inovações.