Resumo:
No limiar entre design, arte e cultura, propomos a projetação por cenários panoramáticos, uma metodologia que promove a transformação da realidade por meio de narrativas imagéticas. Desenvolvemos um percurso teórico-metodológico que envolve a dimensão sensível do design, pelos vieses da estética e da significação. Inferimos, a partir de Adorno (2004), que a arte altera a percepção da realidade, pois é pela experiência estética que é possível superar os limites da racionalidade e negar aquilo que domina a realidade, libertando o homem de um estado de alienação. Desse modo, percorremos um caminho a partir da arte que implica a estética, a ética e a política. Também ressignificamos, à luz do design, os processos de percepção, interpretação e transformação. Nosso percurso projetual é apresentado como um percurso narrativo que envolve a imagem e a imaginação. E, a imagem, neste estudo, é matéria significante de natureza polissêmica e atua na produção de sentido (BARTHES, 2012a). A imagem fotográfica, por sua vez, promove a imaginação ao articular o visível e o dizível em um jogo que faz ver o invisível (RANCIÈRE, 2005). Por essa razão, a imagem fotográfica é o nosso principal insumo projetual. A fotografia, ainda, permite-nos adentrar o inconsciente ótico (BENJAMIN, 2017) da cidade, lócus de imaginação e transformação para o design. O design estratégico é compreendido pela tríade: (a) fazer junto (própria da atividade coletiva); (b) transformação sociocultural (que visa ao bem-estar social); e (c) estratégia (que orienta o percurso projetual). Duas estratégias principais orientam o nosso percurso: a utopia e a transculturalidade. Sendo assim, a estratégia movimenta o processo de projetação em nível metaprojetual, que acontece pelo deslocamento entre os níveis projetuais, o que equivale ao deslocamento entre os níveis de conhecimento metalinguístico. Na projetação por cenários, a (re)montagem e a fragmentação são as principais técnicas que atuam na transformação da realidade; e o fazer-se ver (CANEVACCI, 2011b) é a ação reflexiva do sujeito, o olhar emocionado e interpretativo do pesquisador, condição sine qua non para esse tipo de projetação. A noção de futuro nesse tipo de cenário atua como agente de transformação do presente, portanto ele não pode ser antecipado ou previsto. Sendo assim, realizamos uma experiência de design que é particular do nosso método e qualifica a metodologia apresentada. A nossa experiência envolveu a tessitura de narrativas produzidas em três cidades distintas: São Paulo, Nova Iorque e Cidade do México. Em cada uma das cidades, realizamos uma atividade de observação participativa, com registros fotográficos e uma oficina artística com o tema “Cidade utópica”. As fotografias registradas foram fragmentadas e intercambiadas entre as cidades, com o objetivo de favorecer a transculturalidade por meio da dialógica cultural. A partir disso, as narrativas imagéticas produzidas nas oficinas foram interpretadas e transformadas em um processo artístico e também de significação – semântico e sintagmático – que resultou em uma trama sensível. Logo, projetar também é transformar.