Resumo:
Objetivos: estudar características do sono, má qualidade e tempo inadequado (sono de curta e longa duração), bem como explorar caminhos da possível associação dessas características com o Índice de Massa Corporal (IMC) e a Circunferência da Cintura (CC) em uma amostra de mulheres adultas residentes na zona urbana de São Leopoldo/RS. Além disso, foi realizada uma revisão sistemática e metanálise de estudos observacionais que verificaram a associação entre qualidade do sono e obesidade abdominal em adultos. Metodologia: estudo transversal, de base populacional, com mulheres entre 20 e 69 anos de idade. As características do sono, má-qualidade, sono de curta duração e sono de longa duração, foram avaliadas por meio do Pittsburgh Sleep Quality Index (PSQI-BR). Peso e altura corporal, para o cálculo do IMC, e a CC foram aferidos por entrevistadores treinados. Prática de atividade física, comportamento sedentário e consumo de fast-foods foram consideradas como variáveis intermediárias na associação entre má qualidade do sono e CC e IMC. Resultados: A prevalência de má qualidade do sono (PSQI > 5) foi de 42,8% (IC95%: 39,9-45,7). As prevalências de sono de curta duração (< 7 horas de sono/dia) e longa duração (> 9 horas de sono/dia) foram, respectivamente, 26,7% (IC95%: 24,1-29,4) e 17,9% (IC95%: 15,7-20,3). Verificou-se que fatores socioeconômicos e ocupacionais foram os que estiveram associados aos três desfechos. Também se verificou um efeito indireto na associação entre má qualidade do sono (escore numérico) e aumento da CC via menor prática de atividade física semanal (β=0,03; IC95% 0,01-0,07). Para a revisão sistemática 50 estudos preencheram os critérios de inclusão. Trinta e dois estudos foram incluídos na metanálise sendo que esses compreenderam 39 análises e 35.325 sujeitos. A análise de efeitos aleatórios mostrou que os indivíduos com má qualidade do sono apresentaram maior valor da CC em comparação com aqueles sem má qualidade do sono (SMDs = 0,202; IC95% = 0,131 – 0,273). Conclusões: A importância da investigação de características do sono emerge da necessidade de conscientização de que o sono merece atenção como forma de controle e diminuição das doenças crônicas não transmissíveis. Deve-se considerar também que boa parte das pessoas não tem conhecimento sobre o quanto de sono deveriam ter por noite e os impactos que o sono de má qualidade e com tempo inadequado podem ocasionar na saúde. Isso reforça a necessidade de que esse tema seja visto
como um problema de saúde pública. Dessa forma, ressalva-se a importância do monitoramento das características do sono de populações a partir de realidades específicas. Além disso, estratégias de promoção de hábitos relacionados ao sono mais saudáveis devem ser pensadas com vistas a abarcar não apenas necessidades individuais e coletivas, mas também o contexto no qual estas estão inseridas.