Resumo:
Os estudos e diretrizes da boa governança têm negligenciado que CEO e membros dos conselhos podem estar conectados socialmente. As conexões sociais podem ser vistas como elementos que permitem a aproximação entre indivíduos e, por sua vez, podem influenciar na discricionariedade do compartilhamento de informação entre os agentes envolvidos. Considerando que decisões econômicas podem ser moldadas por fatores sociais, essa tese teve como objetivo analisar o efeito das conexões sociais entre CEO e os conselhos sobre o nível de gerenciamento de resultados das companhias brasileiras. Para atender ao objetivo da pesquisa, foi mensurado um índice de conexão social entre CEO e os conselhos de administração e fiscal das 141 companhias componentes da amostra, no período de 2011 a 2017, o que culminou em 872 observações finais. O índice construído foi composto por 5 indicadores que caracterizam elementos de conexão social a partir do background educacional, profissional e relação familiar do CEO com os conselheiros. Foram utilizados os modelos de Jones (1991), Jones Modificado (1995) e Jones Modificado com ROA (2005) para apuração dos accruals das entidades da amostra. Para testar as hipóteses do estudo, foram utilizadas as estimações econométricas a partir do teste de regressão linear múltipla com pools de cross-section e com erros-robustos clusterizados no nível da empresa. Como teste de robustez os modelos foram reestimados com os indicadores de conexão social, de modo a permitir a avaliação dos efeitos individuais desses. Ainda como teste de robustez, foram reestimadas as equações com regressão de dados em painel com efeitos fixos. Os resultados dos testes econométricos demonstram que o nível de conexão social entre CEO e o conselho de administração possui um efeito negativo sobre o gerenciamento de resultados, enquanto no conselho fiscal não foi detectado nenhum efeito. Quando avaliados os indicadores individualmente, a conexão dada por educação apresentou-se significativa e com efeito negativo sobre os accruals apurados pelo modelo de Jones (1991). Já a conexão dada por experiências profissionais em atuação de conselhos mostrou-se significativa e negativa sobre os accruals mensurados pelos modelos de Jones Modificado (1991) e Jones Modificado com ROA (2005). Os resultados do efeito da conexão social entre CEO e os membros do conselho de administração se mantêm em todas as estimações realizadas. Esses achados indicam que, quanto maior o nível de conexão social entre CEO e o conselho de administração, menor é o gerenciamento de resultados, denotando melhora na qualidade dos lucros reportados. Assim, essa tese tem como contribuição metodológica a criação de uma métrica que permite mensurar o nível de conexão entre CEO e os conselhos. No campo
teórico e empírico, a partir dos resultados encontrados, essa tese agrega ao evidenciar que elementos de interações sociais e relações pessoais, podem beneficiar o conselho de administração no exercício de suas funções e ao contribui ao demonstrar que a independência do conselho de administração nem sempre é benéfica à qualidade da informação contábil, tendo em vista que as conexões sociais de CEOs com o conselho de administração minimiza as práticas de gerenciamento de resultados.