Resumo:
Nesta pesquisa, objetivamos discutir o trabalho prescrito pela Base Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL, 2017) no que concerne ao ensino e prática de análise linguística nos anos finais do Ensino Fundamental, identificando as características textuais-discursivas que configuram a textualização desse agir prescritivo. Buscamos as contribuições de Bronckart (2006; 2008; 2012) e Machado (2009), no que tange ao quadro teórico-metodológico do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD) para discutirmos a noção de trabalho prescrito ao professor. Relacionamos a referida teoria com as pesquisas de ensino de língua materna de Mendonça (2006), Antunes (2003;2014), Silva (2015) e Neves (2018) para as concepções de linguagem, interação e ensino de Língua Portuguesa na contemporaneidade. Ancorados nas reflexões de Mendonça (2006), entendemos que o trabalho com análise linguística deve promover a reflexão do aprendiz sobre os fenômenos linguísticos empregados na produção textual (oral ou escrita), para a compreensão mais ampla dos usos e do sistema linguístico, contribuindo para a formação de produtores de gêneros diversos, aptos a participarem de eventos e práticas de letramento(s) com autonomia e adequação. A metodologia empregada nesta pesquisa é qualitativa, de base interpretativista, na qual as categorias analíticas propostas por Machado e Bronckart (2002;2005), com foco no agir prescritivo, nos determinantes externos, nas finalidades e intenções que envolvem os actantes (atores e agentes) foram adotadas para análise do corpus desta pesquisa. Analisamos, no primeiro momento, o que o referido documento sugere sobre a prática de análise linguística para o ensino de Língua Portuguesa nos Anos Finais do Ensino Fundamental de maneira a explicitar as concepções adotadas nesse eixo de ensino. Feito isso, buscamos averiguar os papéis semânticos (PEREZ, 2018) atribuídos aos professores no eixo de análise linguística, verificando os objetos e funções desses profissionais conforme o documento apresenta. A pesquisa realizada nos permitiu concluir que, por ser um documento a nível nacional que visa ao desenvolvimento da educação, requer maiores desdobramentos que especifiquem o trabalho do professor, articulando seu agir diretamente com as tarefas de ensino e de aprendizagem. Da mesma forma, faz-se necessário o engajamento da prática com análise linguística nas aulas de Língua Portuguesa, enfatizando o ensino de língua com aportes na interação, tornando o aprendiz um analista em sua própria língua e não um usuário limitado nas práticas sociais.